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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Janeiro 26, 2004

Fehér

Miguel Marujo

Miklos Fehér morreu em Guimarães, aos 24 anos, na sequência de uma paragem cardio-respiratória ocorrida durante o jogo entre o Vitória de Guimarães e o Benfica.



Tinha acabado de ver um cartão amarelo e a câmara mostrava o seu sorriso irónico. Voltou-se, recuou, parou, curvou-se e caiu inanimado. Dois minutos antes tinha feito o passe para o golo que deu a vitória à sua equipa.



Manuel Cajuda considerava-o o melhor ponta-de-lança a jogar em Portugal. Apesar de nunca ter deixado de ser a segunda ou terceira opção nos clubes por onde passou, "tapado" por jogadores como Jardel, Nuno Gomes ou Sokota, o internacional húngaro nunca virou a cara a luta, nunca desistiu e empenhava-se em todos os jogos como de finais se tratassem.



O Benfica obteve ontem a vitória mais triste da sua centenária história. Miklos Fehér saiu derrotado da final de ontem, mas viverá para sempre na nossa memória.



Vai ser difícil esquecer as imagens vistas em directo. A morte de um jovem ser humano, transmitida em directo pela televisão... Ainda por cima, a morte de um futebolista da nossa equipa, ocorrida no estádio da terra que dizemos nossa.



Os homens também choram quando assim tem de ser... Ontem teve de ser!

Janeiro 26, 2004

Da sobriedade

Miguel Marujo

A imagem de Fehér a tombar no relvado já foi mostrada à exaustão. Agora são os jornais televisivos da tarde levados à exaustão. Com mais de 35 minutos de jornal, apenas se falou da morte do jogador nos três canais televisivos. Noutros campos, a sobriedade também parece ter estado de fora (a primeira página do JN é má...). Valeu a primeira página de A Bola.


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Janeiro 26, 2004

Sobre a laicidade

Miguel Marujo

O André Belo, no Barnabé, ao falar dos 30000 alunos de escolas portuguesas [que] vão copiar em conjunto a Bíblia à mão, disse esperar «sinceramente que seja uma medida laica, isto é, sem a participação do Estado nem de alunos e professores exteriores à opção de religião e moral» [sublinhado nosso]. Na caixa de comentários ao texto disse-lhe que a laicidade não era isto...



Para mim, a laicidade do Estado não se joga na ausência do Estado de iniciativas que partam da Igreja Católica - ou de outras igrejas e comunidades.



A laicidade do Estado joga-se na pluralidade de todas as religiões no espaço público (podemos discutir se é isso que acontece na prática, mas isso é outro ponto). Não me incomoda uma manifestação religiosa - cristã, muçulmana, judaica, ... - ter a "participação" «de alunos e professores exteriores à opção de religião e moral». Ou as religiões apenas são toleráveis metidas na sacristia ou enfiadas em sinagogas clandestinas?



É uso e costume de algum discurso da esquerda se insurgir contra o discurso da Igreja (assim se identificando a Igreja de Roma, o Vaticano) na moral sexual. Que devia ser outro o discurso do Papa. Concordo. Mas a seguir parece querer remeter-se as igrejas para o interior dos seus templos. Este sinal também é dado, sobretudo em espaços à direita, quando as questões são políticas. Por exemplo, no fórum de leitores do PortugalDiário, a propósito das declarações críticas do bispo católico Januário Torgal Ferreira, sobre a política de imigração deste Governo PSD-PP, houve comentadores que escreveram: "a igreja não se deve meter na política" (claro: se for contra este Governo; se for a favor, lá escreverão que "até os senhores bispos falam bem"). Noutros sítios, há quem reclame ainda por mais intervenção da Igreja Católica na área social, na denúncia de más políticas sociais (como as do católico Bagão, por exemplo)...



São dois ou três exemplos. A condição da laicidade também é a minha. Defendo a laicidade do Estado, mas esta não se deve basear no totalitarismo da "ausência" de sinais religiosos, como na Albânia de Enver Hoxa ou, salvas as devidas proporções, na França de Chirac, que se meteu (como bem sublinhaste) numa alhada com a "lei do véu"...



Por fim, remeto para um texto do Movimento Católico de Estudantes, redigido já em 1993: «O cristão não é "a alternativa a este mundo corrompido", a única possibilidade de salvação. Evangelizar a partir da cultura, discernir como viver a fé no diálogo reconhecedor da autonomia e da pluralidade da Cidade e das especificidades culturais, exige que os cristãos não se posicionem paralelos a nada, mas numa cidadania feita com outros [...]».

Janeiro 26, 2004

Última Vontade

Miguel Marujo

«Morrer assim / como outrora o vi morrer – , / o amigo que lançou relâmpagos e olhares / divinos na minha escura juventude: / – malicioso e profundo, / um bailarino na batalha –, // entre guerreiros o mais jovial, / entre vencedores o mais grave, / um destino sobrepujando o seu destino, / duro, pensativo, clarividente –: // estremecendo porque vencia, / exultando porque morrendo vencia –: // ordenando, ao morrer, / – e ordenou o aniquilamento... // Morrer assim / como outrora o vi morrer / vencendo, aniquilando...» (Nietzsche)


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Luís Afonso, in A Bola