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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Dezembro 31, 2003

«Se me puderes ouvir»

Miguel Marujo

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O poder ainda puro das tuas mãos

é mesmo agora o que mais me comove

descobrem devagar um destino que passa

e não passa por aqui


à mesa do café trocamos palavras

que trazem harmonias

tantas vezes negadas:

aquilo que nem ao vento sequer

segredamos


mas se hoje me puderes ouvir

recomeça, medita numa viagem longa

ou num amor

talvez o mais belo



de Tolentino Mendonça, «Baldios» (ed. Assírio & Alvim)


para 2004: um bom Ano!

Dezembro 31, 2003

Leituras de fim de ano

Miguel Marujo

Nem sempre concordo com Francisco José Viegas (apesar de, mesmo nesses momentos, me fazer reflectir). Mas, agora, ao fechar o pano de 2003, descubro mais razões para o aplaudir. Preto no branco, Viegas fala-nos de «estrangeiros e emigrantes». Deixo um breve excerto de um texto que merece leitura na íntegra: «Portugal, nessas duas décadas prodigiosas (retiro a expressão a António Barreto) utilizou a emigração como motor de desenvolvimento. Fez pontes e estádios com fundos europeus e emigrantes de Leste e de África. Nem sempre tratou bem esta gente. Se um dos partidos da coligação no governo se prepara para adoptar políticas de exclusão em relação à emigração e aos emigrantes, isso constitui – claramente – uma pulhice. Política e humanitária.»

Dezembro 30, 2003

A agenda de jornalistas da Polí­tica (ou o PP infiltrado no PS)

Miguel Marujo

Há um fenómeno na comunicação social que se vira muitas vezes contra os próprios jornalistas. Quando se pensa em alguém para falar sobre determinado assunto, por preguicite ou uma agenda "curta", ouvem-se sempre os mesmos "peritos". Quantas vezes, em questões ligadas à Igreja católica, não ouvi já na redacção a dica "telefona ao D. Januário", como se não houvesse mais nenhuma pessoa interessante para ouvir para além do bispo das Forças Armadas (apesar de ser, em muitos casos, o único bispo disponível para falar - mas isso é outro assunto).



Depois, há o fenómeno contrário. Aqueles que têm lugar cativo na imprensa, mesmo que nunca se perceba a sua importância ou representatividade. Por exemplo, Cláudio Anaia é uma personagem com lugar cativo nalgumas secções de Polí­tica. O jovem diz-se representante dos jovens socialistas católicos (what?) e sempre que se fala do aborto, lá vem o rapaz pulando e saltando ao melhor estilo "PP" (mas sem a verve de Bagão) a zurzir nos seus supostos camaradas de partido. Contra Sampaio, contra Ferro, contra o PS. Ele diz representar mais de 100 jovens. Nunca ninguém os viu. Supostamente, esta "tendência socialista" esteve agora reunida em Beja - cerca de 30 pessoas, dizem os jornais - para bater em Sampaio e no indulto deste à enfermeira da Maia.



Quatro perplexidades:

1. Não há jovens socialistas católicos. Há católicos que, politicamente, serão socialistas ou votarão à esquerda. É a velha confusão, pré-conciliar, da presença da Igreja no mundo, daqueles que querem ter um jornal católico, uma televisão católica, um partido católico (ou democrata-cristão)...

2. A democracia interna desta suposta tendência é fantástica. Em anos, nunca ninguém assumiu a "alternância" na liderança daquele alegado grupo... Cláudio sucede a Anaia que sucede a Cláudio que sucede a Anaia.

3. Há grupos e movimentos organizados, católicos, que dentro da comunidade da Igreja procuram reflectir sobre o mundo (e também sobre o aborto). Eu que passei por alguns destes espaços, sei da dificuldade em fazer passar esses debates para o exterior, para a comunicação social (sempre pouco receptiva). E esses grupos "mexem" com muito mais gente que aqueles supostos jovens socialistas católicos.

4. Sobra a perplexidade ideológica: Cláudio Anaia, discí­pulo confesso e dilecto de Bagão (assim ele se apresenta, desde os tempos em que o actual ministro do Trabalho era a Comissão Nacional de Justiça e Paz e Anaia os jovens da CNJP), está mais próximo da cartilha de Portas, Telmo, Bagão e companhia. Então: por que insiste ele em ser militante socialista?

Dezembro 30, 2003

Durão na Cibertúlia

Miguel Marujo

Algures, lá atrás, numa diatribe anti-blogspot, prometi mudanças, aqui no blogue da casa. Ficaram por cumprir em 2003. Prometo cumpri-las no primeiro mês de 2004, muito antes de qualquer promessa do primeiro-ministro (que tem uma qualquer fixação com 2007 e seguintes).

Dezembro 30, 2003

Senhor, fomos roubados

Miguel Marujo

O "boneco" aparece hoje em vários jornais. Durão Barroso, na viagem experimental do Metropolitano de Lisboa pelas novas estações da linha amarela, é fotografado numa carruagem que indica a próxima paragem - «Senhor Roubado». A legenda não lhe encaixa, claro. Nós é que nos sentimos roubados.

Dezembro 29, 2003

Tréguas de Natal

Miguel Marujo

Não existem. Em parte alguma, como lembrou o Diogo. Hoje, uma vez mais, aí está um episódio de justiça-verdadeira, como alguma blogosfera gosta de apregoar: uma fuga de informação deu a conhecer que dez dos 13 arguidos da Casa Pia serão acusados. Só depois seguiu a notificação à defesa. O senhor João Guerra, procurador do caso, parece seleccionar bem as suas fugas de informação - ou também me vão dizer que foi a defesa a fazê-lo?!

Dezembro 29, 2003

O Pai Natal visitou-nos

Miguel Marujo

À meia-noite da noite de Natal, a Cibertúlia teve um visitante. À hora da missa do galo ou quando se abrem as prendas ou quando se cantam as noites de inverno ou quando apenas nos confortamos e empaturramos entre doces e vinho, alguém desceu pela nossa chaminé e depositou aqui um "clique". Terá sido a Virgem grávida de Paula Rego que o chamou? Ou a solidão também se escreve no computador nestas noites mágicas?

Dezembro 27, 2003

Entre o Natal e o Ano Novo

Miguel Marujo

Esta é daquelas épocas do ano em que melhor sabe não fazer nada... Passado o reboliço da Consoada, do bacalhau e das rabanadas, da troca de prendas e da Missa do Galo, das deslocações entre as casas de uns e de outros, sabe bem esta calma que antecede o novo reboliço do réveillon!

Ainda para mais, estou em Guimarães e isso muda tudo.

Ontem dediquei-me a visitar amigos, aproveitando o facto de ter onde e com quem deixar o Francisco e a Meg. Passei a tarde num café, à conversa com um grupo de amigos e a noite em casa de outros amigos. O tempo vai pasando e nem dou por isso. Mas também não estou peocupado. E isso é bom!

Isto é o que eu chamo férias! Longe do calor impossível do verão algarvio e do stress das viagens de avião que nos levam aos destinos de sonho. Isto sim, são férias!

Pena que os jornais insistam em trazer-nos as más notícias... Do terramoto no Irão, à explosão na China, passando pela queda do avião no Benim e pelos acidentes nas estradas portuguesas. E do Iraque e da Palestina e do Paquistão. Este ano, as más notícias chegaram até de Marte!

E, sobretudo, de Portugal. O país, visto do Norte, tem um aspecto diferente, mas os traços são os mesmos. Ele são as falências das empresas por causa da crise, as promoções antecipadas por causa da crise, os aumentos salariais ridículos por causa da crise, o aumento do desemprego por causa da crise, o natal pobrezinho por causa da crise... A crise em Portugal tem nome de mulher (Manuela Ferreira Leite) mas a causa da crise tem nome de homem (José Manuel Durão Barroso).

Enfim... hoje não me apetece falar de desgraças. Estou de férias. Estou em Guimarães. Os cheiros dos doces de natal ainda enchem a sala de jantar. A agitação do ano novo ainda vai ter de esperar. O tempo passa devagar e eu estou contente.

Vou ter com o meu filho, sentar-me no sofá e ver televisão. Qualquer coisa que esteja a dar na televisão.

Dezembro 23, 2003

Ei, o que é aquilo no Céu?

Miguel Marujo



Bom pessoal, a todos o meu desejos de um Bom Natal. Agora tenho que ir seguir uma estrela brilhante que de repente surgiu no céu... assim que conseguir deixar o estacionamento com o meu camelo, ir a uma grande superficie comercial comprar ouro, ou esmirna... se ainda não tiverem esgotado.

Dezembro 22, 2003

O eixo do mal (antes da noite do Bem)

Miguel Marujo

Há dois pesos e duas medidas na leitura dos dias. Diz-nos, brilhantemente, o Diogo, já aqui em baixo. José Manuel Fernandes não é só paladino da ocupação do Iraque. É o melhor exemplo de quem tem muitos pesos e muitas medidas (explica Diogo), talhados pelo alfaiate das conveniências políticas.

À reflexão aqui apresentada acrescento uma outra, antes do "sumiço" que levaremos todos em noites de Natal: por estes dias, foi divulgada uma importante notícia sobre a adesão da Líbia ao tratado de não-proliferação de armas nucleares e ao abandono de qualquer empenho na concretização de um programa de armas de destruição (ainda que, observem os peritos internacionais, faltasse muito à Líbia e a Kadhafi para obterem qualquer destas armas e que só o conseguiriam com ajuda externa).



O silêncio de quem defendeu a guerra contra o Iraque (JMF, incluído) sobre esta notícia explica-se facilmente: durante nove meses, os Estados Unidos preferiram a via negocial, do diálogo e (horror dos horrores!) da solução pacífica para um problema que, ainda não existindo, poderia acontecer. Sabiamente, a CIA negociou e arrematou uma paz duradoura no Norte de África, com uma ditadura sanguinária, capaz de muitas atrocidades (ou será que JMF também a "desvaloriza", comparando com Saddam, esse novo Estaline ou Hitler, como a Direita agora gosta de dizer?).



No Iraque, atrevemo-nos a dizer, a paz era possível sem a guerra, a queda de Saddam seria uma etapa inevitável com outros compromissos que fossem assumidos pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. Mas a pressa do petróleo e os dólares da reconstrução voaram mais rápidas que a própria sombra das nunca-encontradas-armas...



A (des)propósito de Estaline e dos dois pesos e duas medidas, muita blogosfera (também à Direita), tem rejubilado com o novo romance de Martin Amis, «Koba, o Terrível». Por causa do retrato impiedoso do estalinismo. Pena que não se lembrem também de «Experiência», como recordou Mário Mesquita no Público, onde escreve: «O Texas não parece, por vezes, assemelhar-se à Arábia Saudita, com o seu calor, a sua riqueza petrolífera, os seus lugares de culto transbordantes e as suas execuções semanais?».

Dezembro 22, 2003

Luanda, Lisboa e Washington

Miguel Marujo

José Manuel Fernandes, "paladino da ocupação do Iraque" nas palavras do Miguel Marujo, e uma das pessoas para cujos rendimentos mais lamento contribuir, assina o Editorial da edição do Público de hoje. O texto intitula-se «Durão no casamento de Luanda» e, basicamente, diz o seguinte: «Num paí­s onde se morre de fome e que depende da ajuda internacional, uma festa com o luxo da do casamento da filha de José Eduardo dos Santos é um escândalo. Mas que contou com a participação cúmplice de Durão Barroso. Que vergonha...»

Desengane-se quem chegou a pensar que me preparo para defender José Eduardo dos Santos da opinião de José Manuel Fernandes. Deus me livre! Mas, não consigo deixar de perguntar a mim mesmo e a quem ler estas linhas a razão de, aparentemente, a Rua Viriato ter tão boa vista para Luanda e tanto nevoeiro a encobrir a vista do resto da cidade de Lisboa. Ou de Washington.

Porque é que JMF se envergonha da viagem privada, de "amigo", de Durão Barroso a Luanda e não se envergonhou, da mesma forma, da viagem oficial, de "aliado", de Durão Barroso à Base das Lajes?

Porque é que JMF acha escandaloso o luxo do casamento de Tchizé e não achou, da mesma forma, escandaloso o luxo do aparato militar utilizado nos bombardeamentos, invasão e ocupação do Iraque?

Porque é que JMF tem palavras tão duras para com este acto de Durão Barroso, quando foi, ele próprio, cúmplice do envio de "tropas" pagas a peso de ouro a partir de um país onde o salário mí­nimo não chega a 360 Euros por mês?

Acaso nos EUA e em Portugal não se morre de fome? Ou de frio? Ou será que a miséria dos angolanos vale mais que a dos norte-americanos e dos portugueses? Ou os angolanos dizimados pela guerra valem mais que os soldados norte-americanos e os civis iraquianos a quem acontece o mesmo?

Confesso que não entendo.

Que o primeiro-ministro português se deveria abster de praticar actos de vassalagem junto de José Eduardo dos Santos, eu entendo. O que não entendo é a razão pela qual JMF não faz o mesmo raciocínio quando o acto de vassalagem tem no seu centro um senhor chamado George W. Bush...

Porque JMF é mesmo assim. Tal como acusa os outros de fazer, tem vários pesos e várias medidas. Não se preocupa muito com a coerência de pensamento e de discurso, desde que o que pensa e escreve sirva para defender e alimentar a sua visão do mundo, feita a preto-e-branco, e da humanidade, dividida entre bons (os seus) e maus (os outros). JMF é daqueles que não teria hesitado em lançar a primeira pedra... mas talvez escrevesse um editorial contra a pena de morte no dia seguinte.

JMF dirige um dos melhores jornais portugueses com uma tiragem média que ronda os 70.000 exemplares; JMF foi colocado no pedestal dos comentadores televisivos e radiofónicos; JMF modera debates, comenta conferências e apresenta livros. JMF há-de ter algumas qualidades, mas isso não o coloca acima dos comuns dos mortais. Como jornalista profissional que é, deveria, ele também, abster-se de praticar actos de tal arbitrariedade.

Dezembro 20, 2003

Isto é um assalto!

Miguel Marujo

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A história explica-se em duas linhas: há uma loja que "rouba" os clientes.

A S. fez o pagamento por multibanco, mas quando fez o "verde-código-verde" mecanicamente não confirmou que estava a pagar euros com zeros a mais. E há meses que espera pela devolução de cerca de 300 contos!

A loja tem coisas muito giras, é muito engraçada, mas um erro pode-nos ser fatal.

A «Art Wear» (C.C.Colombo e C.C.Vasco da Gama, Lisboa) é de evitar.

Mesmo com as coisas giras de Roy Lichtenstein que pululam pela loja...

Dezembro 19, 2003

Bush defende «revolução democrática» no Iraque

Miguel Marujo

«Desde quarta-feira que os soldados americanos decidiram demonstrar a sua força pelas ruas de Samarra, cidade de sunitas que recusam a ocupação. Entraram com blindados em casas, esmagaram muros de escolas, prenderam e libertaram muitos habitantes.»



Estas palavras não foram escritas por mim. Nem por um qualquer perigoso esquerdista. Vêm na primeira página do diário dirigido por José Manuel Fernandes, paladino da ocupação do Iraque.

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