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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Outubro 24, 2003

Urdidura

Miguel Marujo

O DN tem novo director. É Fernando Lima, ex-assessor (um dos vários inúteis assessores deste Governo) de Martins da Cruz, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e ilustre presidente honorário do Clube da Cunha. Quem disse que a comunicação social foi privatizada pelos governos de Cavaco Silva? O "site" do jornal, entretanto, está em baixo. Urdidura? Cabala? Tristeza?

Esta informação perde validade a partir do momento que o "site" arribar com a chegada de Lima.

Outubro 24, 2003

Jornalistas «cooperantes de crimes»?

Miguel Marujo

Sugiro algumas leituras para aquilo que o Jorge questiona, em «Crimes e cooperantes», sobre a violação do segredo de Justiça.



Por exemplo, o texto do Código Deontológico dos Jornalistas não se refere especificamente ao segredo de Justiça - ou à sua eventual violação. Mas deixa algumas pistas, especialmente nos pontos 6 e 7. [Por este Código ser pouco "conhecido" ou "praticado", mesmo entre a classe que se deve reger por ele, reproduzo alguns excertos (o texto completo está acessí­vel na página do Sindicato).]



«1. O jornalista deve relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendí­veis no caso. [...] 2. O jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais. [...] 6. O jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes. O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar informações falsas. As opiniões devem ser sempre atribuídas. 7. O jornalista deve salvaguardar a presunção da inocência dos arguidos até a sentença transitar em julgado. O jornalista não deve identificar, directa ou indirectamente, as ví­timas de crimes sexuais e os delinquentes menores de idade, assim como deve proibir-se de humilhar as pessoas ou perturbar a sua dor. [...] 9. O jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos excepto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indiví­duo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende. [...]»



No mesmo dia em que o Jorge aqui questionava os jornalistas (que são dois, nesta tertúlia, ao contrário do que então escrevi - mil desculpas, JVA!), o Público de quarta-feira, na sua primeira página, fazia publicar um editorial de toda a Direcção em que pedia «Serenidade e equilíbrio» (não disponível na edição on-line). Como estou de férias, não imagino a reacção de outros jornalistas a este texto. Como noutras ocasiões há-de ter provocado reacções menos de concordância, mais (noutros meios) de grande discordância. Percebe-se: neste momento, é difícil não dar notí­cias sobre o processo Casa Pia, sem recorrer às "inevitáveis" fontes anónimas ou a fugas de informação de coisas que estão em segredo de Justiça. Acuso o "toque" do Jorge: será o "mensageiro" tão responsável pela fuga de informação como o "emissor" dessa "mensagem/fuga"?



Neste ponto, concordo com a Direcção do Público: «[...] Como jornalistas, não deixaremos de publicar o que entendermos ser de interesse público, independentemente de poder servir a estratégia de A ou B. Fá-lo-emos com as preocupações de contenção, frieza e equilíbrio que, neste momento, sentimos serem nossas responsabilidades acrescidas. Também seremos chamados a julgar, todos os dias, o que merece ser ou não publicado [...]».



É neste fio da navalha que se joga também a credibilidade dos jornais e dos órgãos de comunicação social. Mas, neste caso, acho que o fogo não deve ser apontado sobretudo à comunicação social. É desviar do alvo principal. Hoje, também no Público, Miguel Sousa Tavares apresenta-nos «algumas reflexões rigorosamente inúteis», que são tudo menos inúteis. E sobre um exemplo concreto de violação do segredo de justiça, questiona-se MST: «As alegações completas do Ministério Público no recurso da prisão preventiva de Paulo Pedroso, incluindo a transcrição integral das escutas, veio publicada esta semana como suplemento de 12 páginas no jornal "24 Horas". Repito: as alegações completas, com indicação de origem e tudo. Segredo de justiça? Lealdade processual? Presunção de inocência? Direito ao sigilo da correspondência de quem não é parte em processo nem suspeito? O que é isso? Repito o que disse há dias: a PIDE também escutava, mas, ao menos, não publicava as escutas.»

Outubro 24, 2003

Coisas do mundo outro

Miguel Marujo

Pausa em tempo de férias, para mais uma "blogada" (e para ver se preparo algumas coisas atrasadas, como responder ao desafio do Jorge). Salto de blogue em blogue, procuro as referências diárias, descubro novos sítios, visito os amigos e caio apenas um pouco tarde num lugar onde já não ía há alguns dias. Cito na íntegra.



«Terça-feira, Outubro 21, 2003

El Pais

Uma das maiores vantagens de se trabalhar num jornal reside no facto de ser possível - e quase obrigatório, sempre que o outro trabalho o permite - ler uma data de jornais. Na edição de hoje do espanhol “El Pais” há dois textos que se não deviam perder por quase nada deste mundo. Uma crónica da Rosa Montero sobre a pobreza escondida de Madrid e uma reportagem do horror: a história de um grupo de emigrantes africanos mortos de sede e fome enquanto o barco fantasma que devia levá-los a Itália andava à deriva no Mediterrâneo. Quando deixaram de ter forças para lançar os cadáveres à água, os sobreviventes passaram a utilizá-los para se aquecerem e para se protegerem da chuva. É verdade: acontecem no nosso mundo coisas que parecem do outro.»



Destas coisas, quase ninguém se ocupa. Andam todos a escutar o telefone errado. Obrigado a Jorge Marmelo.

Outubro 24, 2003

Da morte (uma semana depois)

Miguel Marujo

«Que tipo terá escolhido no momento da morte? Gostarias de te transportar até essa masmorra como uma Verónica e de lhe passar a toalha sobre o rosto, para gravares o rictus sincero do que vai morrer. É sincero esse rictus? Por acaso a cultura educou-nos por forma a escolhermos o rictus da morte, inclusive a última frase? Qual seria o grito de um ser humano sem cultura, perante a presença da morte? Um alarido, que é a linguagem mais sincera, o alarido ou, na sua falta, a tristeza biológica do resignado que abre as portas do corpo à morte a partir da melancolia paralisante, com os olhos interiores fechados perante o inevitável. A água da piscina contém-te as lágrimas, mergulhas como se renunciasses à realidade do dia e da terra e quando emerges ficou nas águas a tua angústia, como uma sujidade viscosa da alma e espera-te a verticalidade de um empregado que descobriu o ponto exacto da tua emersão.»



Manuel Vázquez Montalbán, Galíndez, ed. Caminho (1994).

Outubro 24, 2003

Hoje somos alguns, amanhã seremos mais uns quantos...

Miguel Marujo

Do meio do Atlântico, o Paulo Decq associou-se à Cibertúlia. A nossa comunidade estende-se agora à ilha de São Miguel. Já cá andam 18-dezoito-18 cibertúlicos (não parece, pois não?): em Aveiro, a Luísa Marujo, o Filipe Teles, "asceta", o Pedro Prí­ncipe, o Rui Viegas e o João Marujo; em Lisboa, a Ana Rita Varela, o Zé Manuel Salvado, o João Quirino, o Diogo Pinto, o João Borges, o Nuno Alves, o João Vasco Almeida, "primo galarza", e eu-me-myself-and-I. Em Coimbra, o "sir" José Saraiva e o Miguel Branco. No Algarve, a Cláudia Soares. No Porto, o Jorge Barreiros. Venham de lá essas postas.