Num blogue, que só agora descubro (são tantos), o
Catalaxia lamenta-se por João Paulo II: «
Não merecia o que lhe está a suceder». Propõe Rui, o autor, que se reforme a sucessão do bispo de Roma, «
de quem, infelizmente, a memória futura, feita de imagens e de sombras, registará mais o triste fim do que o seu fantástico percurso de vida».
O percurso é, de facto, notável. E ainda que o
Catalaxia prefira sublinhar «
pelo menos, um forte contributo para o desmoronamento do Império Soviético e a libertação da Europa de leste», falta também referir a forte denúncia do capitalismo (associada à do comunismo). Adiante.
O que aqui me toma é o incómodo manifesto - para «
memória futura» - das imagens de um Papa debilitado e frágil, a adoecer à nossa frente. Incomoda sim, mas julgo que esse incómodo resulta mais de nos incomodar todos os dias a dor e a morte, em geral. Queremo-las privadas, recatadas, sem que os outros nos possam ver a morrer.
No 12º ano (há quanto tempo!) fiz um trabalho - naquele ensino que produziu uma "geração rasca" - sobre a Arte e a Morte no Antigo Regime (que acabou por se estender até à II Guerra Mundial: entusiasmos adolescentes...). Uma das coisas que me lembro de reflectir foi «a arte de bem morrer»,
Ars Moriendi, que na segunda metade do século XV ensinava as pessoas a morrer. Hoje, longe de
tentativas "estranhas" para recuperar esses discursos, julgo que é importante reflectir se a doença e a morte não podem ser
vistas assim - como nos aparece João Paulo II, como o Papa se tem exposto. Contra a lógica deste século, em que os corpos se querem bonitos e saudáveis. E em que as reformas antecipadas são "normais" aos 40 anos. Ou «
de modo a impedir que se repita o que está a suceder com este Papa».