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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 19, 2003

Avante mentiras

Miguel Marujo

Uma atoarda do «Avante!», nos dias de hoje, não merece credibilidade por aí além... Mas falamos de política.

Noutros tempos, as suas atoardas eram anónimas, mas não eram lixo. Falavam de política.

Não consta que se lesse lá - apesar da oposição óbvia a Salazar - algo sobre eventuais ligações do antigo seminarista de Santa Comba à sua governanta, ou histórias ainda mais sórdidas. Mesmo o «Ballet Rose» (o verdadeiro, não o romance de Felícia Cabrita e Moita Flores) foi decidido nos tribunais (com a Justiça daquele tempo), com denúncias confirmadas na imprensa estrangeira.

As denúncias anónimas devem ser investigadas pelas autoridades judiciais e policiais. Os jornalistas devem procurar confirmar eventuais histórias que lhes caiam em cima, confirmando mil e uma fontes, para garantir a credibilidade do que se escreve - e para não arrastar ninguém para a lama...

PORQUE (conclua-se) não se arrasta para a lama o nome de uma pessoa que seja só por que não gostamos dela, que é o caso daquele blogue.

Setembro 19, 2003

O justiceiro do jornalismo

Miguel Marujo

Ah! Agora que até nesta página há uma ligação directa para o famoso "muito mentiroso", eis que surge a discussão sobre se devemos ou não dar atenção a uma coisa anónima.



Tal como o Miguel, julgo que não se deve dar atenção a atoardas. Lembro-me que as ciganas do Parque Eduardo VII, como não me convenciam a que as deixasse ler-me a sina, diziam que ia morrer logo ali na passadeira. Atoardas e anónimas, porque nunca soube o nome das senhoras.



O blogue em causa, no entanto, levanta outros problemas, julgo, que são os seguintes:



1) Enquanto os textos chegavam às redacções em cartas anónimas, eram apenas de consumo jornalístico e de uma pequena clique que anda a ver se descobre a «verdade». Era um entre milhares de textos, documentos, processos, recibos estranhos, fotocópias passadas à socapa nas noites de Lisboa ou bares esconsos de hotel. Quem anda nisto sabe como estas coisas se passam e o seu dever é, sempre, olhar para os papeis, desconfiar e, se assim se justificar, investigar.



2) Quando o texto se torna público através da internet, e por causa do seu conteúdo, há uma expectativa óbvia: será que os visados vão responder? Apresentar queixa crime? Será que o Procurador Geral da República vai tomar medidas. Espante-se: nada acontece. O dono da PJ vem dizer que nada faz e a PGR fica na mesma. Então, coloca-se a segunda questão: será o texto tão mentiroso que ninguém lhe liga (os números e a própria investigação jornalistica desmentem esta hipótese em pontos concretos desse texto) ou há fundo de verdade e qualquer queixa pode ser prejudicial para os próprios queixosos.



3) Ávidos de notícias da Casa Pia, os jornalistas seduzem-se como o peixe pelo isco e, infantil e perguiçosamente, mordem-no. Uma semana depois três jornais referem o blog. Duas semanas depois uma televisão publicita-o a milhões de pessoas. Sempre com o mesmo gesto que os putos fazem perante filmes de terror: tapam a cara com a mão, mas abrem os dedos.



4) O MuitoMentiroso é, de facto, mentiroso. Porque se há questões que levanta que são preocupantes, há outras - quer nos textos corridos quer nas perguntas - que são falsificações bem conhecidas de quem investiga o caso.



5) Para provar tudo isto, saibam que um novo texto, chamado «O Polvo, continuação», anda nas redacções há duas semanas e é oriundo do mesmo GOVD, o tal alegado grupo que rema contra a maré. Mas ainda não apareceu no blog. Mas muitos jornalistas, investigadores e cromos de Portugal já o trazem bem junto ao corpito.



Conclusão: uma denúncia anónima merece ser investigada, está na lei. Uma imbecilidade anónima, sem provas e só com lama para atirar deve ser ignorada. Não lembra que o «Avante!», ainda clandestino, tenha sido um jornal de atoardas. Por exemplo.

Setembro 19, 2003

Jornalismo justiceiro

Miguel Marujo

O Jorge Barreiros (bem-vindo!) traz aqui um assunto que acho importante. E "linka" para a prosa de Sousa Tavares que diz o que penso sobre o «controverso» blogue. Eu transcrevo, a partir de MST: Aprendi há muito tempo, no tempo dos telefonemas e cartas anónimas da PIDE, que a única resposta digna e possível às acusações anónimas é ignorá-las, esquecê-las e não as reproduzir. Até agora, em democracia, tínhamos pelo menos a razoável protecção da consciência dos editores dos "media" ou, em última análise, o recurso à justiça para reparação das difamações anónimas. Contra a Net e os blogues, porém, nada há que possa defender as pessoas. É a arma perfeita dos cobardes, ideal num país que sempre cultivou o boato, o anonimato e a difamação sem rosto nem assinatura.



Aqui no jornal discutimos a matéria, depois da publicação de um artigo sobre o dito blogue. Eu DISCORDEI violentamente: acho que não se pode tornar CREDÍVEL - dando-lhe espaço noticioso, dando-lhe crédito - uma coisa que é ANÓNIMA e, manifestamente, INSULTUOSA. É cobarde o autor daquilo dizer que se limita a "pôr no ar" coisas que lhe mandam. E são cobardes os jornalistas - que não têm fontes, nem provas documentais do que ali se vomita - falarem de pessoas e coisas e supostos factos que, de outra forma, nunca podiam publicar. Porque manda a deontologia (sim, também a temos) que não se publiquem FACTOS NÃO PROVADOS POR VÁRIAS FONTES. Mais: as fontes anónimas devem ser evitadas, mas sendo impossível devem ser os factos confirmados por várias fontes, credíveis e seguras para os jornalistas.



O que se passa com o dito blogue é que os jornalistas se aproveitam para dar a notícia dos nomes que alegadamente compõem o ramalhete dos crimes escabrosos supostamente cometidos na Casa Pia sem (acham esses jornalistas) se porem em causa.



Esquecer o que ali está não é assobiar para o ar, como se fazia em relação ao que se passava no Casal Ventoso ou no Intendente (um argumento que me venderam para "public(it)ar" o blogue). A droga e a prostituição existem, mas os seus rostos não são caluniados sem possibilidade de defesa.



Duas questões "menores": 1) o Jorge fez o link para o blogue. Outros blogues recusam-se a fazer. Eu também não o faria, pelos motivos que atrás invoquei. Mas quem defenda o contrário. 2) os blogues passavam bem sem esta publicidade negativa. Mas todas as coisas boas são manipuladas...



Por fim, cito um dos "clássicos" (como aliás, também já ontem, o nosso amigo Asceta referiu): A SIC, no Jornal da Noite, acaba de dar destaque à existência do blogue de denúncias anónimas sobre o processo Casa Pia. Pedimos desculpa por esta interrupção, o jornalismo segue dentro de momentos.

Setembro 19, 2003

O estado dos transportes (IV)

Miguel Marujo

A Carris antecipa-se ao dia sem carros (que todos os automobilistas-em-carro próprio detestam) e promove nos seus veí­culos a companhia com uma campanha publicitária engraçada - e que lembra o essencial: é possível, hoje em dia, andar de autocarro a ler um livro ou o jornal, a jogar, a falar ao telemóvel sem riscos de provocar acidentes...



Como costumo ser optimista: ainda por cima, ando todos os dias de Mercedes ou Volvo, motorista particular e ar condicionado. E deixem-me ser de esquerda: e dou boleia a uns quantos pelo caminho. Já experimentaram?

Setembro 19, 2003

A estranha forma de comunicar...

Miguel Marujo

Oi bloguistas,

(bloguista - não sei se o Livro de Estilo da Cibertulia permite a expressão... mesmo assim aqui vai!)



Esta é a minha primeira experiência bloguista... e já se sabe, a primeira vez é sempre especial!



Tenho acompanhado com regularidade a Cibertulia, aliás como já o fazia na versão anterior à febre bloguista - por mailing list. Devo agradacer ao Miguel Marujo por nos proporcionar, mais uma vez, um espaço de debate, comunhão e expressão daquilo que nos passa pela cabeça...



Vou levantar um tema que está na ordem do dia... é blog e é controverso!



O Miguel, o outro, o Sousa Tavares já se insurgiu e as TVs já o noticiaram... Na realidade mais parece uma novela com contornos Agatha Christicos, por outro deixa-nos uma réstia de dúvidas... e se for a realidade?

Na verdade, aceitando a justiça portuguesa - leia-se PJ - denúncias anónimas para iniciar a investigação de qualquer crime, será lícito pedir-lhes que avancem com a investigação com base nas 100 perguntas e outras tantas suspeitas levantadas pelos mentirosos?