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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 15, 2003

Os portugueses primeiro

Miguel Marujo

Paulo Portas passou-se!

Eu ouvi Paulo Portas, ao falar de imigração, dizer "os portugueses primeiro".

Esta frase é a tradução literal do slogan da última campanha eleitoral de Jean-Marie Le Pen (Les Français d'abord) e é também o título da revista mensal publicada pela Frente Nacional francesa. Esta revista aborda fundamentalmente "as questões que preocupam os franceses", ou seja: "a insegurança e a imigração, o desemprego e as deslocalizações, o social e as reformas". Os temas são apresentados assim mesmo, dois a dois, como a estabelecer uma relação directa entre os dois termos de uma mesma equação: a imigração como razão da insegurança, o desemprego devido às deslocalizações, as políticas sociais e as reformas.

Tal qual como fez Paulo Portas na rentrée de Aveiro: a imigração como causa do desemprego.

Mas Paulo Portas também falou da, segundo ele, necessária revisão constitucional. Não porque seja preciso reformar o sistema político ou por qualquer outra razão estrutural, mas porque é preciso libertá-la do seu cunho ideológico. Como se a Constituição não fosse precisamente um documento ideológico!

O que Paulo Portas quer, diga-se claramente, é substituir o actual cunho ideológico da CRP (socialista) por um outro qualquer cunho ideológico. Arrisco até a aposta de que Paulo Portas gostaria mais de ter uma Constituição que dissesse "os portugueses primeiro".

Mas, estou certo, o PS e (até) o PSD não vão deixar que tal aconteça. O PSD vai perceber que está a alimentar o monstro que Paulo Portas criou. E que se continuar a alimentá-lo, a direita liberal portuguesa vai ser responsável pelo retrocesso e pela vergonha que representariam o triunfo ou simplesmente o crescimento da extrema-direita portuguesa.

As próximas eleições europeias vão ser decisivas para aferir da responsabilidade do PSD e do real peso do PP na sociedade portuguesa. Vai o PSD aceitar uma coligação eleitoral com um partido claramente anti-europeu como o PP? Espero, sinceramente, que não. Espero que o PSD saiba aproveitar esse momento para separar as águas, porque eu não duvido que o PP saberá aproveitá-lo para apalpar o terreno. É que a questão europeia é uma das preferidas da tal revista francesa...

Setembro 15, 2003

Pequenino Portas

Miguel Marujo

Não está esquecido o "post" às portas da fé. Só não houve ainda tempo! Entretanto, Pacheco Pereira atirou-se a Portas, este domingo [«Voz presa, voz solta»] - e com toda a razão! - por copiar «a vulgata de Le Pen». Um alerta que já aqui tínhamos denunciado: «Depois da madrugada, há um formigueiro de gente que sai à rua, mete-se no metro, sobe aos autocarros, anda de comboio. Andassem os nossos governantes de transportes entre as seis e as sete da manhã e mudaria a política de (contra a) imigração.»

Setembro 15, 2003

Futebol

Miguel Marujo

Quando eu era pequenino, no recreio da escola, à segunda-feira só se falava de futebol. Vou tentar retomar este bom hábito e, às segundas-feiras, escrever sobre futebol.

Infelizmente para mim, vou ter de começar por dizer mal do Benfica...



Mas vamos com calma... first things first!



Poaaaarto!

O Porto ganhou, mas isso não é propriamente notícia. O que vale a pena dizer é que o Porto ganhou sem Deco, sem Costinha, sem Alenitchev e sem McCarthy! O Porto tem um plantel de enorme categoria e conta com reservas de imensa qualidade, como são Pedro Mendes e Ricardo Fernandes ou Marco Ferreira e Mário Silva. Ricardo Fernandes e Marco Ferreira até foram os marcadores dos golos que deram a vitória ao Porto, mas o destaque não podia deixar de ir para o marcador do outro golo do Porto: Derlei abriu o marcador com um golo de classe e fez a assistência para o terceiro golo com um passe magistral. E, como sempre, mostrou uma entrega e uma visão de jogo que merecem respeito.

Independentemente da justeza da vitória do Porto, não posso deixar de fazer um comentário à arbitragem. João Ferreira esteve mal em dois lances importantes: ao mostrar o segundo cartão amarelo a Edson (não houve penalty mas também não houve simulação) e ao não assinalar uma mão de Nuno Valente no lance que iniciou a jogada que haveria de dar o terceiro golo ao Porto.



Benfica

O Benfica não foi capaz de ganhar ao Belenenses e, em vésperas de ir jogar às Antas contra o Porto, perdeu mais dois pontos, o que o deixa já a 5 pontos do campeão nacional...

Não é grande começo, mas vamos pensar que o Porto no ano passado também empatou em casa com o Belenenses...

O que é que se pode dizer sobre uma equipa que aos 86' está a ganhar 3-1 e que sofre dois golos no perí­odo de descontos? No mí­nimo, que anda com medo!

Incrível a forma como o Benfica teve o pássaro na mão e depois o deixou fugir... É verdade que o Benfica foi forçado a apresentar uma equipa muito diferente da habitual (devido às ausências de Simão e de Geovanni, à estreia de Luisão e ao facto de Zahovic ter ficado no banco), mas também é verdade que o Belenenses não jogou nada de especial. O Benfica perdeu dois pontos porque a equipa não foi coesa, porque faltou um pensador no meio-campo, porque teve medo e resolveu segurar o resultado e porque Marco Aurélio fez grandes defesas. Perdeu dois pontos porque Camacho fez as substituições erradas (quem é que percebe a saí­da de Féher para a entrada de Hélder?!), mas, objectivamente, também perdeu dois pontos porque a equipa de arbitragem não deixou o Benfica ganhar o jogo. Duarte Gomes cometeu erros de palmatória: logo aos 9' anulou um golo ao Benfica, assinalando um fora-de-jogo inexistente e, já na segunda parte, voltou a assinalar erradamente dois foras-de-jogo (a Alex e a João Pereira) em lances nos quais os jogadores do Benfica corriam isolados para a baliza do Belenenses. O pior de tudo foi, no entanto, ao ní­vel disciplinar: apesar da dureza dos jogadores do Belenenses, apenas Rui Borges viu o cartão amarelo (enquanto que no Benfica houve cartões para 4 jogadores!). É incrí­vel, por exemplo, como é que Eliseu e Filgueira não viram sequer o cartão amarelo...



Sporting

Ontem à noite o Sporting recebeu e venceu o Nacional, cumprindo o seu dever.

Rochemback foi outra vez o melhor (eu já tinha avisado!): inaugurou o marcador com um remate de fora da área, defendeu como ninguém e mostrou uma notável leitura de jogo e uma alegria contagiante. É um craque!

Foi o regresso às vitórias depois do desastre das Antas e Fernando Santos parece ter lido as minhas crí­ticas, já que tirou Hugo e deixou jogar Quiroga e Polga. O Nacional, por sua vez, podia ter reduzido a vantagem do Sporting, mas Adriano, isolado, não consegiu bater Ricardo.

Para completar a trilogia da má arbitragem, uma palavrinha para Nuno Almeida: péssimo! Espero que tenha aprendido que quando não se tem critério, não se consegue impor autoridade...



O Boavista ainda não jogou. O Vitória de Guimarães perdeu em casa contra a Académica de Coimbra. O Marí­timo ganhou outra vez por 1-0 e mantém-se na liderança. O Sporting de Braga leva três vitórias consecutivas e só perdeu pontos contra o Porto.



Os estádios do Euro 2004 é que são uma barraca: em Guimarães falhou a luz e nem a placa do 4º árbitro funcionava; em Alvalade já quase conseguiram resolver o problema do relvado... Sempre quero ver que defeitos terão os outros!

Setembro 15, 2003

O Canal 18 explicado às criancinhas

Miguel Marujo

O Diogo já o escreveu: «O Governo julga-se no direito (ou até na obrigação) de nos dizer o que é bom e o que é mau; o que é aceitável e o que é inaceitável; o que está certo e o que está errado. E a religião dá uma ajuda na legitimação deste seu papel». Já outros andavam preocupados com estas matérias.

Agora, chegou às ruas esta "nebulosa" atitude purificadora governamental. Numa campanha da responsabilidade do ministro mais ideológico deste Governo, o do Trabalho e da Segurança Social - Bagão Félix -, está nas ruas a prevenção de violência contra as crianças. Numa clara mensagem subliminar, o primeiro alerta do grande "outdoor" diz em letras garrafais: «NÃO DIALOGAR» - e depois, em letra quase imperceptível, «com estranhos».