Evoquei este dia à minha maneira, sem a eloquência-contundência do Diogo. Pus uma imagem e um poema - apenas de memória. Porque entendo a memória como projecto.
Lembrei esta data, também a partir das lembranças do Filipe. Não assobiei para o ar. Mas perante o obsceno que é o "post" «11 de Setembro» de Pacheco Pereira não resisti a dizer «basta!».
Afirma Pacheco: «Alguém do Público anda a ler os blogues e encontrou aqui a inspiração para fazer uma capa do jornal com uma mensagem política inadmissível: a equivalência do 11 de Setembro de 1973, o golpe de Pinochet, e o 11 de Setembro de 2001, os ataques da Al Qaeda aos EUA. A mera colocação, no mesmo plano de uma capa, das duas datas, ligando acontecimentos de natureza muito diversa, que nada une, cujo significado político actual não é confundível, que remetem para realidades políticas estruturalmente distintas, é todo um programa.
Na TSF, José Manuel Pureza explicou aquilo que a capa do Público diz: tinha sentido associar os dois onze de Setembro pois estes estavam unidos pelo "expansionismo americano". Está tudo esclarecido. É uma forma de pensar próxima do negacionismo do holocausto. E campos de concentração será que houve?»
Pergunto eu: o Chile de Pinochet nunca existiu? Foi uma criação da esquerda? O Público ao tratar jornalisticamente os dois acontecimentos dá destaque aos dois. Não pode? Ou devia optar pela cegonha? Assobiar para o lado e fingir que o Chile de 73 não existiu?
Afirmo ainda: JMPureza não precisa de defesa. Mas é nojento insinuar uma leitura (descontextualizada, como faz PP) próxima do negacionismo, por alguém que há muito reflecte sobre o Direito internacional e que desde sempre não calou a sua voz por causa de Timor (e onde andavas tu, ó Pacheco, quando de Timor?).
Para que se perceba a ideia de JMPureza transcrevo as suas declarações ao PortugalDiário, sobre estes dias 11 de Setembro: «Passados dois anos do 11/9/2001 importa relembrar também o 11/9/1973, dia em que o governo de Unidade Popular, de Salvador Allende, foi derrubado por Pinochet. Nos dois casos há um elemento comum: os EUA. E, nos dois casos, resultou numa limitação e estreitamento na margem de manobra política: os muito bons de um lado e os muito maus do outro. Do pós-11/9 de 2001 destaca-se a adopção, por parte da administração americana, de uma política quase unilateral, com uma arrogância perante as instituições multilaterais. E o que se aviva mais é o tipo de resposta que os EUA puseram em marcha: uma resposta belicosa, que foi muito mal preparada e mal justificada. Neste momento, há uma situação de crise e de impasse no Iraque, mas tem tudo a ver com a radicalização do unilateralismo e com as formas agressivas de agir. A nível de agenda internacional esqueceram-se questões importantes, como o protocolo de Quioto, os oceanos, a biodiversidade e a cooperação com África, e está tudo dominado pela luta contra o terrorismo, sem se saber concretamente o que é isto. Quanto às relações sociais, assiste-se a um certo maniqueísmo e o confronto entre o bem e o mal está legitimado».
Ainda uma sugestão: a escolha de Ivan Nunes para o 11 de Setembro. Longo texto - necessária reflexão.
E mais este parágrafo: «Os novos unilateralistas cometem um erro ao focar a sua atenção muito fortemente apenas no poder militar. É verdade que o poder militar americano - apoiado por um orçamento equivalente ao dos próximos oito países juntos - é essencial para a estabilidade global, e uma parte essencial da resposta ao terrorismo. Mas a metáfora da guerra não nos devia cegar para o facto de que acabar com o terrorismo vai levar anos de cooperação civil paciente e não espectacular com outros países em áreas como a partilha de informação, trabalho policial, vigilância de fluxos financeiros e cooperação entre responsáveis alfandegários.»
Mais uma opinião do "perigoso anti-americano" JMPureza? Não: um texto do americano Joseph S. Nye, hoje no Público. O que se atreveu a tratar jornalisticamente os dois 11 de Setembro.
Antes de mais, um último agradecimento... Miguel: eu percebi que o JPH não entendeu o meu texto como uma anedota. Eu estava a brincar... era uma chalaça, percebes? O texto não era uma anedota, mas até parecia...
O José Manuel Fernandes assina hoje um editorial no Público, intitulado "Uma batalha que diz respeito a todos". Entre uma série enorme e diversa de considerações de senso-comum barato, asneiras que lhe ficam mal e parvoíces às quais já nos foi habituando, JMF afirma que «continuamos a ter de lutar por um modelo civilizacional assente no respeito pela lei e pelos direitos dos indivíduos e que tem como expressão de governo a democracia liberal».
Isolada, esta frase poderia ser incluída no grupo das considerações de senso-comum barato. O problema é que, no contexto em que está inserida, a afirmação passa a ser um misto de asneira (que fica mal ao director do Público) e de parvoíce (à qual já nos foi habituando).
É que quando JMF diz «continuamos», está a incluir neste «nós» os americanos e os ingleses (ou os seus governos, para ser mais exacto). O que é, evidentemente, uma contradição, já que se há coisa que deixou de ser respeitada por estas duas potências, desde há dois anos, foi precisamente a lei e os direitos dos indivíduos.
Se JMF não partilhasse da obsessão messiânica de George W. Bush - que, como diria Leonard Cohen no seu poema "First we take Manhattan", parece sentir-se «guided by a signal in the heaven»... - talvez conseguisse parar um bocadinho e perceber que o mundo - antigo ou moderno - não se desenha a preto e branco. E ficava-lhe bem admitir...
Estou de acordo que é intolerável que «a qualquer momento, em qualquer lugar, cidadãos tranquilos e paíficos» possam ser atacados. Mas, pelos vistos, ao contrário de JMF, acho tão grave que os atacantes sejam «fanáticos em nome de um fundamentalismo islamo-fascista» como outra coisa qualquer... mesmo que vistam camuflados, andem de tanque e helicóptero e saibam falar inglês com sotaque do midwest.
JMF defende-se, dizendo que já falou dos prisioneiros de Guantanamo e que não quer falar sobre as armas de destruição maciça que, aos seus olhos, não são questões centrais. Pois...
Bem sei que a técnica de construir uma teoria a partir de apenas alguns elementos (eventualmente "reforçados"), ignorando propositadamente outros, não é uma criação original de JMF. Outros, antes, utilizaram a mesma técnica. Mas o facto de um erro ser cometido muitas vezes, não faz com que deixe de ser um erro. Certo?!
JMF não quer falar das armas de destruição maciça e de outras questões "periféricas" porque são peças difíceis de encaixar no seu puzzle preto-e-branco que prova que "o Iraque é o novo campo de batalha" entre o bem o mal.
Seremos todos americanos, mas isso não significa que tenhamos todos de estar de acordo com a poítica seguida pelos nossos governantes. George W. Bush não pode, até porque carece de legitimidade democrática para o fazer, decidir sozinho entrar numa batalha e, depois de lá estar, gritar por ajuda, dizendo-nos que a batalha diz respeito a todos.
Não, JMF, as batalhas que me dizem respeito sou eu que decido quais são. Não é o Presidente dos EUA, nem o director do Público.
No dia 11 de Setembro de 2001, quando os atentados bárbaros que atingiram NY e Washington tiveram lugar, eu estava a viajar para Istambul. Foi num hotel dessa cidade-ponte que vi as imagens do impacto dos aviões, do colapso das torres gémeas do WTC, do caos, do pânico e da estupefacção.
Trazia nesse dia comigo um caderno que, na capa, tinha a seguinte inscrição: «welcome to the wild world». O caderno estava cheio de folhas brancas e eu decidi começar a preenchê-las. No momento em que peguei na caneta, ouvi, um pouco por toda a cidade, os cânticos que chamavam os fiéis à oração. Não mais parei de escrever...
Percebi, nesse momento, que eu também tinha uma batalha a travar porque não queria que os meus filhos viessem a viver nesse "wild world". O campo dessa minha batalha passa pelo Afeganistão e pelo Iraque, mas passa também por Londres e por Washington, por Madrid e por Lisboa. Abraça todo o mundo, porque os meus inimigos estão em todo o lado.
A estupidez e a intolerância, a incompreensão e a soberba, o racismo e a arrogância. Os meus inimigos são perigosos e poderosos e têm ramificações por todo o lado. Estão nas montanhas do Afeganistão e no Pentágono, no deserto iraquiano e em Downing Street, na Casa Branca e na Rua Viriato.
Aqueles a quem JMF se refere quando diz "os Estados Unidos e o Reino Unido", escolheram o seu caminho e a sua batalha. Tal como a Al-Qaeda escolheu o seu caminho e a sua batalha. Mas esses não são os meus caminhos nem as minhas batalhas e, por isso, a batalha deles não diz respeito a todos.
O diálogo intercultural (cá estou eu a meter a minha colherada!) não é coisa fácil. É um caminho pedregoso e uma batalha longa e difícil. Mas tem uma grande vantagem, JMF: nesta batalha não há "nós ou eles"; na minha batalha é "nós e eles"!
Um dia destes vou ser pai e, daqui a alguns anos, vou entregar um caderno ao meu filho. Na capa vai continuar a inscrição «welcome to the wild world», mas as folhas vão estar cheias de palavras escritas à mão. Espero que, depois de as ler, o meu filho perceba que o mundo só continuará selvagem se nós não estivermos dispostos a participar no esforço de construção da Paz.
E esse esforço, JMF, não se faz com exércitos e milhões de dólares em bombas e mísseis. Faz-se, antes de mais nada, continuando a lutar por um modelo civilizacional assente no respeito pela lei (igual para todos) e pelos direitos dos indivíduos (e das culturas) e que tem como expressão de governo a democracia liberal (legitimada pelo povo em vez de imposta pela força de uma potência estrangeira).
Julgo que JPH não entendeu o teu texto como anedota, Diogo. A definição que apresentei do dicionário devia ter sido acompanhada de uma possível interpretação. Entre jornalistas, usa-se muito aquela expressão para um «gancho forte», ou bem "esgalhado", que se arranja para uma determinada notícia, reportagem ou análise...
E a análise brilhante do Nuno teve um resultado inesperado: o presidente do IEP também caiu. Não foi só a ponte.
PS - A propos: sonha, Filipe, sonha. O Nuno vai já esclarecer-te que nem sempre a matemática se aplica a tudo! Se fosse assim, a medida mais estúpida, como reconheceu a Ferreirinha, teria tido uma consequência digna do bater de asas da borboleta.
Proposição A: "Tomar a medida mais estúpida" (afirmação da Sra Ministra Ferreira Leite)
Proposição B: "Controlar o défice"
Segundo a referida ministra: A implica B
Pela mesma lógica matemática então:
Não controlar o défice implica tomar medidas inteligentes!
(Ops... devemos remeter imediatamente este "post" para o Ministério das Finanças, para o Banco de POrtugal, para o BCE e afins... dará direito a Nobel da Economia? Proponho já a Ministra!)
Não pude deixar de reparar no elogio que me foi feito pelo João Pedro Henriques, do Glória Fácil. Não fazia a mínima ideia que os meus textos eram lidos por tão afamados bloguistas, mas é claro que fiquei muito contente! Obrigado e, já agora, o que é que é isso da "punsh line"?! Também gostei muito das referências elogiosas do Asceta Filipe, a quem também agradeço.
Já que estou em matéria de agradecimentos, obrigado também ao Ricardo. Se não fosse ele (e a ajuda do árbitro auxiliar que assinalou aquele fora-de-jogo), a Selecção não tinha ganho o jogo de ontem e o meu irmão mais novo (que está a morar na Noruega) ia ser gozado na escola.
Morreu Ann Lindh, Ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia e principal motor do 'Sim' à adesão à moeda unica no referendo a realizar no Domingo. Um tipo qualquer vestido de militar esfaqueou-a. É triste pela vida que se perde antes de mais, depois pela perda de uma pessoa empenhada na construção europeia, e depois pela forma arbitrária como aconteceu.
É 11 de Setembro e aparentemente esta data mete medo. Já não é preciso sequestrar um avião para instalar o pânico. Agora basta aos terroristas um video a ameaçar que o fazem. As Bolsas caem, os dispositivos de segurança multiplicam-se, o mundo prende a respiração...
O Presidente do Instituto de Estradas de Portugal diz, entre outras coisas, que era impossivel a inspecção detectar as falhas na estrutura da ponte pedonal do IC19. Ainda ontem se pedia mais dinheiro para as inspecções do IEP. Pois assim apetece dizer que nem mais um tostão. Se as inspecções não servem para nada...
A oposição já pediu a demissão do Presidente do IEP, claro.
E a selecção ganhou mas jogou mal. Digo eu. A minha alma futebolistica continua em pranto.
É mais um blogue. Mas não é apenas mais um. Pelo nome, pelo mote: «O que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros?» O Barnabé é Sérgio Godinho - como cantaríamos uns quantos de nós de guitarra e copos na mão -, pela pena de Daniel Oliveira (ex-residente na casa do BdE), André Belo («o extemporâneo», incluído no nosso Depósito Legal, na coluna aqui à direita), e outros quatro barnabés. Vamos a isto!