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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Setembro 30, 2003

De cabeça perdida

Miguel Marujo

Pergunta: quem foi Damasceno Monteiro? Colocaram-me esta simples questão há alguns dias, por curiosidade toponímica lisboeta. Não havendo um qualquer "site" que esclareça ou conte a história das ruas de Lisboa e sabendo que não se trata do homem que perdeu a cabeça no romance de António Tabucchi, deixo esta questão a navegar na blogosfera. Qualquer resposta possível (séria) podem dirigi-la para o endereço electrónico desta casa. Antecipadamente, muito obrigado!

Setembro 29, 2003

Benditas sois vós

Miguel Marujo

O Zé regressou pontualmente sexta-feira. Com as questões pertinentes de sempre. O Diogo está a gozar a felicidade do seu filho. O Nuno fecha-se nos últimos dias da tese. O Filipe retirou-se para lugares mais ascetas. O Saraiva pontua-nos com o seu humor às vezes aqui, muitas vezes ali. O Primo Galarza exprime-se primeiro no seu conjunto musical. O Jorge Barreiros manifestou-se uma vez - e nós esperamos mais. Sobram outros, inscritos como intervenientes das tertúlias que aqui se propõem, mas em austero silêncio. Já nem o futebol os "pica".

De resto, faltam as mulheres (a Tatiana só aqui aparece por empréstimo). Elas calam-se. Aqui - e na maior parte da blogosfera.

E com as vozes que nos inquietam também o silêncio se arrasta: «É assim». Parece que nem com orações lá vamos...

Setembro 29, 2003

Classificação

Miguel Marujo

136º lugar: não é o "ranking" da minha escola, não é a posição da selecção portuguesa na listagem da FIFA, muito menos a classificação do Benfica na tabela da UEFA. É apenas o lugar singelo desta vossa Cibertúlia num outro "ranking" de blogues portugueses. «Dados ordenados pelos Inbound links», diz lá. Tá bem.

Setembro 29, 2003

O Estado dos transportes (V)

Miguel Marujo

É preciso dizê-lo: foi o PSD que deu cabo da rede nacional ferroviária, com os óbvios problemas que hoje se colocam. Mas o povo andava contente: já tinha auto-estradas e uns IPs para passar rapidamente entre as cidades esquecendo os interiores.



O PSD voltou ao poder e a política de destruição do comboio continua. Com a auto-estrada do Atlântico (Lisboa-Leiria) ainda incompleta, o Governo prepara-se para dar a estocada final na linha do Oeste (Lisboa-Figueira da Foz), partindo-a aos pedaços, dando-a (eles dizem: vendendo-a) aos privados e remetendo-a para uma função regional, esquecendo a possibilidade de dar às populações do Oeste (Caldas da Raínha, Leiria, Figueira da Foz) uma ligação eficaz e eficiente para o Norte do país (bifurcando a linha com a do Norte) e para o Sul (Lisboa e Alentejo-Algarve, através da nova ligação para o reino da mouraria...



Tudo isto contra os planos da Refer em avançar com a modernização da linha, já em 2005.



A CP ficará a partir de 2004 confinada a um eixo definido pela A3 (auto-estrada de Braga), A1 (auto-estrada do Norte) e A2 (auto-estrada do Sul) e com umas ramificações suburbanas. E o País mais pobre, mais desertificado, mais longe da Europa (para usar uma expressão que enche as bocas dos peixões que nos governam).

Setembro 28, 2003

Estaline na casa de Portas

Miguel Marujo

Paulo Portas reescreveu a história sem pudor. Num filme de propaganda apresentado no Congresso do CDS-PP (Centralismo Democrático Soviético à Paulo Portas) a história do partido é contada sem quatro presidentes do mesmo: Freitas do Amaral, Adriano Moreira, Lucas Pires e, claro, Manuel Monteiro não entram nos 30 anos de CDS. Apenas Amaro da Costa, que não foi líder, e Paulo Portas, numa representação estalinista da história, surgem no vídeo. Está em marcha o mito paulistiânico.



[A notícia vem no Público de hoje. O título de JPH é eloquente: «Os Novos Trostkys Democratas-cristãos».]

Setembro 27, 2003

A democracia na Igreja

Miguel Marujo

Ontem estive longamente à conversa com duas pessoas sobre o meu percurso individual - da minha participação associativa à vida académica, do meu percurso de católico e das opções profissionais que tomei. Fui várias vezes questionado: «Como se pode estar na Igreja, hoje, nos dias que correm?»

Respondi, invariavelmente: «Seria fácil dizer que a minha Igreja não é a de Ratzinger ou da Opus Dei. Mas também é. A Igreja Católica é feita de muitas igrejas».



Hoje, ao ler o Tolentino, a propósito da agitação na comunicação social e na blogosfera, por causa das anunciadas propostas para "alterar" as celebrações, revi-me muito nas suas palavras. Cito-o, apesar de longo, por valer muito a pena.



«(...) existe o modo como, facilmente, a opinião dita democrática se refere à Igreja. Esta aparece não como uma comunhão de comunidades, tecida conscientemente dos fios da diversidade, com matizes, expressões e ritmos específicos, mas como um bloco compacto e amorfo, sempre pronto a partir para uma cruzada contra a intocável Modernidade. E é confrangedor constatar como pessoas que admiramos pela sua inteligência, pelo esforço do seu espírito crítico, quando se trata da Igreja, desfilem simplesmente uma catalinária de lugares-comuns. Nunca, por exemplo, esquecem a Inquisição (e acredito que disso resulta um bem, pois a perpetuação dessa memória obriga a Igreja a um perpétuo processo de purificação), mas parecem ter omitido, eles que se tomam por seus "apóstolos" oficiais ou exclusivos, aquilo que é básico na cultura democrática: não só a tolerância, mas o interesse pelo outro, o desejo de conhecer, o reconhecimento do que o outro transporta.

Quanto à cultura democrática, creio que ela também resulta da experiência cristã. Refiro, antes de tudo, a centralidade dada, no cristianismo, à Pessoa e aos seus direitos e deveres fundamentais, mas igualmente a persistência do dissenso na Igreja, visto como afirmação profética do Espírito e não como interrupção. Jesus congregou sensibilidades tão diferentes como as de Pedro e João; os Actos dos Apóstolos falam da Igreja de Jerusalém e das Igrejas da diáspora, confiadas a Paulo; a Teologia cristã, convergindo num mesmo depósito da Fé, é tudo menos uniforme: basta pensar em Santo Agostinho e São Tomás ou nos recentes Karl Rahner e Balthasar; os cristãos individualmente e em comunidade vivem diferenças litúrgicas, diferenças de pensamento e de sentimento. Há uma unidade, um credo, uma procura de convergência no agir: mas há também uma hierarquia nas verdades e aquilo que não deve ser esquecido: "o mais importante é a caridade".

O que verdadeiramente me incomoda nos recorrentes comentários à vida da Igreja é que, usando a bandeira da democracia e da inteligência humanista, se tropece precisamente naquilo que se critica.
jtm»



[os sublinhados são nossos]

Setembro 27, 2003

Voos

Miguel Marujo

Desde quinta-feira à noite que andamos a sobrevoar um país pequenino. Do tamanho de um helicóptero.

Setembro 26, 2003

Memória

Miguel Marujo

Edward Said morreu, no mesmo dia em que pilotos israelitas recusaram atacar alvos civis palestinianos. A comunicação social, ontem, pareceu ter ignorado. O Público dá hoje a notícia. Como já tinha feito a blogosfera, aqui e aqui. Estes "links" são uma pequena entrada para o pensamento do autor de «Orientalismo».

Setembro 25, 2003

Eis que…

Miguel Marujo

Estou de volta. Após um longo período sem escrever regresso a estas lides.

Antes de mais parabéns a quem de direito especialmente à Inês ao Diogo e ao Francisco.

O meu bem haja a todos os que se lembraram de mim durante esta segunda vaga de calor. Neste momento na Tapada Nacional de Mafra estamos a acabar de avaliar os danos e a começar a projectar o futuro.

Tinha prometido já há muito tempo atrás escrever sobre a floresta portuguesa, mas sinceramente hoje não me apetece.

Portanto vou falar de cinema. Fui ver os Piratas das Caraíbas, é um filme que vale a pena olhar com atenção.

Ontem revi o Dune, alguém me pode explicar em que estrada perdida o David Linch se perdeu para o grande cinema ????

Para acabar o belo do ramalhete só me falta o Exterminador III que está prometido ir com o Miguel e o Nuno.

E viva o “cinema amaricano” com porrada e muitos efeitos especiais.



Parece que a Fundação para a Ciência e Tecnologia apertou os cordões à bolsa. A maior parte dos meus amigos que concorreram a bolsas de doutoramento viram o seu pedido ser recusado. Como já há muito tempo não havia dinheiro para bolsas de mestrado, parece que agora só há bolsas para Pós-Doc. Não me parece uma boa estratégia para um país que quer apostar na qualidade e na inovação, cortar as pernas a tanta gente com vontade. Será que o Ministro Pedro Lince acha que já temos mestres e doutorados a mais em Portugal?

A verdade é que temos situações caricatas, pessoas com mestrado e doutoramento são afastadas do ensino Politécnico mantendo-se nessas escolas, a coberto de Comissões Instaladores que duram décadas, pessoas com habilitações muito baixas e que actualmente contribuem muito pouco para um ensino de qualidade em Portugal. Os prazos para muita dessa gente acabar os mestrados e doutoramentos está a acabar, vamos ver se há coragem para resolver este problema de frente.



Em breve será aplicada a Convenção de Bolonha ao Ensino Superior Português. A Ordem dos Engenheiros já veio a público e bem, dizer que não aceita uma diminuição na qualidade de formação, vamos ver como é que o ministério descalça a bota de ter instituições universitárias de reconhecida qualidade sem alunos e instituições de ensino politécnico com qualidade de ensino mais baixo, mas que também conferem licenciaturas, com mais alunos. Sabendo que o financiamento ao ensino superior se baseia no rácio professor/aluno parece que se avizinha um período conturbado entre Universidades e Politécnicos com a Convenção de Bolonha á mistura.

Setembro 25, 2003

Apostasias esclarecidas

Miguel Marujo

Recebemos de Rui Tavares, um dos barnabés (que lemos compulsivamente) um e-mail com alguns esclarecimentos sobre um "post" anterior, «Apostasia e liberdades»:



«Caro amigo:



A propósito da sua entrada sobre a apostasia, tenho pena que não tenha feito as seguintes precisões.

1. Não é "o Barnabé" que vai apostatar. O Barnabé é constituído por várias pessoas, umas baptizadas que não se pronunciaram sobre o assunto, outras não baptizadas que não tem nada que ver com o assunto, e eu que sou baptizado e que, se tiver pachorra e ultrapassar a minha natural preguiça, vou apostatar um dia destes porque é meu direito e certamente maior do que aquele que tinha quem me baptizou. Não vejo onde está o ridículo.

2. Eu chamei a atenção para o facto de que o site que alberga a "declaração de apostasia" era inacreditavelmente mau. Teria sido honesto da sua parte relembrar essa distinção. Porque de outra forma, depois de ter colado o Barnabé à minha posição, cola-nos a todos à posição de um site intelectualmente indigente.

Seria um sinal de desportivismo da sua parte se publicasse esta clarificação no cibertúlia, que de resto achei bastante interessante.

Fá-lo-ia normalmente através da janela de comentários, mas como não a têm e o seu texto me atinge directamente peço-lhe a si que o faça.



Um abraço

Rui Tavares
».

Setembro 25, 2003

Risível

Miguel Marujo

O Luís Nunes fez-me chegar (por correio) algumas «medidas» mais para um culto a "sério". Ou de como a Igreja - melhor, o Vaticano - se põe a jeito para estas e outras piadas.



«Acho, caro Marujo, que estas medidas "inovadoras" sabem a pouco ao cardeal Torquemada (perdão, Ratzinger). O projecto inicial, recebi-o pelo correio, contém mais seis normas e reza assim:



1. Obrigatoriedade, sob pena de excomunhão, de todas as liturgias serem faladas em latim, com o padre virado de costas para os fiéis. Afinal, há quem tenha saudades dos "bons tempos".

2. Proibição, sob pena de excomunhão, de os fiéis se saudarem durante a missa. São contactos demasiado íntimos e eventualmente pecaminosos.

3. Obrigatoriedade, sob pena de excomunhão, de todos os fiéis respeitarem a dízima, nem que seja sobre o Rendimento Social de Inserção.

4. Proibição, sob pena de excomunhão, de pensar. Pensar é uma irresponsabilidade perigosa. Os fiéis não pensam, crêem. Aqueles que fazem do pensar o seu modo de subsistência, como os cientistas e intelectuais (cruz credo!) devem ser denunciados e julgados por Nós.

5. Obrigatoriedade, sob pena de excomunhão, de todas as fiéis comprovarem semanalmente a sua virgindade. As mulheres impuras não cabem no Reino dos Céus.

6. Proibição, sob pena de excomunhão, de qualquer fiel contactar com infiéis. Um infiel bom é um infiel morto e as Cruzadas foram a época gloriosa em que o nome de Deus era respeitado.

7. Obrigatoriedade, sob pena de excomunhão de toda a humanidade, de o próximo Papa se chamar Ratzinger, a quem todos devem temer reverencialmente.



Só assim os fiéis regressarão à casa de Deus. Se não os conquistamos pela simpatia, conquistamo-os pelo medo, como antes.



Publique-se,

Assinatura ilegível
»

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