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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Agosto 20, 2003

Cristiano Ronaldo

Miguel Marujo

1. É a contratação da época! A grande novidade do defeso! Ana Sá Lopes juntou-se à Glória Fácil. Com Glória.

[Desculpem-me Diogo, Filipe, Nuno, Saraiva, Zé e todos os outros que já assinaram pela Cibertúlia. Mas fiquei com uma pontinha de inveja destes gloriosos confrades!]



2. Cheguei lá por ter cheirado obsessivamente uma flor (e os elogios multiplicaram-se): há umbigos hilariantes, imperdíveis. Tirem-lhe o cotão.

Agosto 20, 2003

Cinema paraíso

Miguel Marujo

Voltei ao São Jorge. Sem hipóteses de ver «O Verão de Victor Vargas» (está reduzido a duas sessões numa única sala lisboeta – já repararam: não são só os filmes que se repetem nas salas, são as horas uniformes que deixam pouca margem de escolha "fora de horas"), resolvi ver a velha sala do centro da cidade, recuperada com gosto, maltratada a gosto. Não sei se é de propósito, mas parece ser intenção do autarca de Lisboa deixar morrer este "canto" da capital (a notável Zero em Comportamento, com provas dadas, já se propôs, sem resposta, gerir as três salas).



Quase não há informação sobre os filmes em exibição (uma folha de aspecto carote limita-se a repetir o que os jornais nos dizem – realizadores, intérpretes, horas, géneros). O painel electrónico com os horários das sessões não funciona. Um aviso na bilheteira esclarece que «por motivos de avaria técnica» não há ar condicionado em nenhuma das salas (felizmente já lá vão os dias de canícula rigorosa). O bar é compostinho, mas mortiço. A programação é estranha (sobras das distribuidoras? já disse que a Zero em Comportamento quer "pegar" nisto?). A sala tem um travo a mofo de reposteiros e alcatifas pesadas. Valham-nos os três euros do bilhete às segundas e o terraço (será? tem vista para uma coisa sem graça chamada Tivoli Forum e para os carros da Avenida - e se, em vez do túnel, o fechamento dos bairros históricos se estendesse a este passeio público? A cidade respira ali, mas apetecia respirá-la de outro modo).

Antes das obras, um dos filmes em exibição era «Porcos e Diamantes». Agora está «Sonhos Desfeitos».



PS - Àparte cinéfilo: gostei de Rui Baptista, no Público de sexta-feira, a falar de «Casablanca» - e do Aveirense, uma vingança para todos os cronistas que falam de monumentais e impérios, como se o país inteiro os conhecessem.



[Este "post" foi escrito na noite de segunda-feira. Os acontecimentos precipitaram o atraso na sua publicação.]

Agosto 20, 2003

A morte? A vida

Miguel Marujo

É a reacção mais «surpreendente» dos blogues à morte de Vieira de Mello. Não que eu esteja de acordo, com muitas coisas que diz esta praia, mas pelas perplexidades que encerra. E porque fala sobretudo da morte - e de Deus, que bate sempre à porta de quem não crê - na hora da morte.

Lê-se ali: «Sou, convictamente, profundamente, cada vez mais, ateu. A ideia de Deus, da alma imortal e todas essas coisas parece-me absurdamente estúpida. Estúpida, é o que me parece - e não peço por isso desculpa a quem crê. Mas tenho nostalgia de Deus, quer dizer: sei que não existe mas tenho pena. O caso é que não me conformo com a morte.»

A almofada seria melhor se, qual «Truman Show», fosse mostrada a vida como ela pode ser: «Que realmente a vida existe para sempre, etc. - eu estaria disposto a aceitar. Seria espantoso e absurdo, mas a morte não o é menos.»

Não é da morte que ali se fala, então. É da vida.

Agosto 20, 2003

... da terra que emana o leite e o mel ...

Miguel Marujo

Em sociedades antigas carpiam-se os mortos.

É isso que me apetece fazer hoje.

Gritar bem alto que morreu um homem bom, razão de esperança, uma alma velha.

E estou triste desta desesperança.

Estou mais pobre estamos todos, até quem mandou executar o atentado.

Agosto 20, 2003

«Os maus vão ficar furiosos»

Miguel Marujo

Se não fosse trágico, esta notícia do Público era anedótica. O ataque à ONU não se explica por isto, mas pode também "explicar-se" por isto.


O exército americano parece evidenciar sinais de desespero na perseguição a Saddam Hussein. Fracassadas até agora as tentativas para o matar e capturar, apesar da oferta de uma recompensa de muitos milhões de dólares a quem fornecer informações sobre o seu paradeiro, a mais recente iniciativa é a divulgação de uma série de fotomontagens. O objectivo é irritar os apoiantes do ex-ditador iraquiano. Assim, cartazes com Saddam disfarçado como Veronica Lake [em baixo, à direita] ou Zsa Zsa Gabor, Elvis Presley ou Billy Idol [também em baixo, à esquerda] deveriam ter começado ontem a ser afixados em Tikrit, a terra-natal do deposto Presidente. "Muitos vão adorar e rir-se mas os maus vão ficar furiosos e isso permitirá que nós os identifiquemos", disse à Reuters o coronel Steve Russel, do 22º Regimento da 4ª Divisão de Infantaria dos EUA. Os seus planos poderão, contudo, sofrer um revés, observou o diário "The Guardian", de Londres. "Acho que as pessoas [de Tikrit] acharão [as fotos] ofensivas", disse uma porta-voz militar em Bagdad. "Vamos ter de contactar a 4ª Divisão para saber o que se passa."

Agosto 20, 2003

A estratégia do caos

Miguel Marujo

Olá Filipe! Sê benvindo a este espaço! Sei que ele vai ficar a ganhar com a tua chegada!



Ontem, porém, o Mundo ficou mais pobre. Perderam-se vidas inocentes em Baghdad e Jerusalem e, entre elas, a de, pelo menos, um homem bom. A morte de Sérgio Vieira de Mello não só deixa o Mundo mais pobre, como priva a ONU daquele que Ana Gomes considerava ser o seu "melhor funcionário". E deixa a utopia do respeito pelos direitos humanos, mais longínqua.



Não conhecia Sérgio Vieira de Mello a não ser da televisão. Vi-o, em meados de Abril, em plena conquista do Iraque, no HARDtalk, da BBC News. Entrevistado pelo durí­ssimo Tim Sebastian, Sérgio Vieira de Mello explicava aquele que poderia ser o papel da ONU no pós-guerra que estava a chegar. Calmo, ponderado, diplomata, lá foi dizendo que a manutenção da ordem e da segurança era responsabilidade dos EUA e dos seus aliados.



Sérgio Vieira de Mello morreu porque, quatro meses passados sobre o fim da guerra, os EUA são incapazes de manter a ordem pública no Iraque. Como, aliás, têm sido incapazes de manter a ordem pública no Afeganistão.



Que não fiquem dúvidas a ninguém: creio convictamente que o atentado de ontem foi uma acto cobarde e hediondo, injustificável a todos os tí­tulos. Os seus autores devem ser encontrados e entregues à justiça e devem pagar pelos seus actos. Não sinto a mí­nima simpatia pelo acto, nem pelos seus autores. Não festejei, antes chorei, as mortes de ontem.



Mas há que buscar mais fundo. Para que a verdade e a honestidade não pereçam também entre os escombros.



O atentado de ontem é uma prova evidente da nova estratégia das forças anti-Americanas: mostrar ao Mundo que os EUA são incapazes de assegurar a ordem pública e assustar e afugentar as agências humanitárias envolvidas na reconstrução do Iraque. Inscreve-se no padrão de recentes atentados contra condutas de petróleo e, mais recentemente, contra a Embaixada da Jordânia em Baghdad. No entanto, a existência deste padrão não é suficiente para garantir que os seus autores são os mesmos.



Temos assistido nas últimas semanas a ataques quase diários contra os militares americanos. Nós e os próprios americanos já nos costumávamos a habituar... nessa atitude terrí­vel que é a da vulgarização da morte. No entanto, o atentado de ontem veio mostrar que as forças que se opõem aos EUA no Iraque, sejam lá quais forem as suas origens e crenças, não querem apenas matar soldados americanos e seus aliados: querem espalhar o medo!



O Presidente Bush respondeu à moda do Texas, onde se encontrava de férias, a jogar uma partida de golf: «every sign of progress in Iraq adds to the desperation of the terrorists and the remnants of Saddam's brutal regime. The civilized world will not be intimidated, and these killers will not determine the future of Iraq». De acordo com aquilo que tem sido a sua estratégia, George Bush quis colocar-nos a todos como vítimas dos atentados, dizendo que os autores do atentado são inimigos de todas as nações que pretendem ajudar o povo iraquiano. De um certo modo, tem razão...



Mas a verdade é que a situação americana é complexa: se os iraquianos tiverem medo e se sentirem inseguros, não vendo a sua situação melhorar, a sua hostilidade em relação aos americanos pode aumentar.



De facto, estes ataques parecem dirigir-se sobretudo a impedir a melhoria da qualidade de vida dos iraquianos. Ao negarem a capacidade das forças de ocupação para pacificar o Iraque, estes ataques impedem os americanos de conquistarem os corações e a confiança dos iraquianos. Se o caos se mantiver, a reconstrução do Iraque não pode avançar.



A autoria do atentado ainda não foi reivindicada e, por isso, não é ainda claro se os seus autores são os resistentes do antigo regime ou se, pelo contrário, se tratam de fervorosos muçulmanos vindos de outros paí­ses para matar americanos. Os atentados com carros e camiões armadilhados têm a sua origem algures entre os movimentos religiosos terroristas do Médio Oriente, tais como o Hezbollah. Mas nos últimos anos esta táctica tem-se alargado e foi já utilizada nos ataques contra as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia, em 1998, que todos atribuem à Al Qaeda.



Não se deve afastar totalmente a possibilidade do atentado ter sido perpretado por elementos ligados ao regime de Saddam Hussein, mas a verdade é que vários oficiais americanos já admitiram que vários elementos do Ansar al-Islam se terão refugiado no Irão durante a guerra e estarão agora a regressar.



O Ansar al-Islam é um pequeno grupo fundamentalista acusado de ter ligações à Al Qaeda. Actua na clandestinidade e é integrado por iraquianos insatisfeitos (já desde o regime anterior) e muitos estrangeiros que querem integrar a "guerra santa" contra os militares americanos e os seus interesses no Iraque.



Será que a invasão e ocupação do Iraque, para além da violência gratuita (que terá provocado muitas mortes sob os escombros), da ilegalidade à luz do direito internacional, da justificação forjada e do não aparecimento das invocadas armas de destruição massiva, ainda irá criar um terreno propí­cio ao fundamentalismo islâmico e ao terrorismo da Al Qaeda?



Deus nos livre, senhor Bush!

Agosto 20, 2003

Equilíbrios

Miguel Marujo

Os pontos avançados pelo Filipe [ver os posts anteriores] mantêm a sua pertinência. Depois dos «avizos» aqui deixados, retomo - e equilibro - o debate. Para ouvirmos outras vozes. Para ouvirmos as nossas vozes.



Peço licença a João Pedro Henriques, do Glória Fácil, e reproduzo na íntegra as suas perplexidades.



O óbvio revelado em toda a sua brutalidade: a coligação EUA/Reino Unido soube preparar e concretizar a invasão do Iraque mas não soube nem preparar nem concretizar o pós-guerra (aliás, duvido que se possa falar em "pós-guerra", os factos recentes provam que se continua em guerra).



Disto isto, nem era preciso apostar que esta constatação seria interpretada pelos defensores da invasão como uma manifestação de alegria pelo horror que os atentados provocaram. Para esses, pessoas como eu estão neste preciso momento, secretamente, a celebrar em várias casas do país, num estado de felicidade suprema - mas silenciosa, para os vizinhos não acharem suspeito - as mortes de Bagdad e Israel. Porque somos da esquerda pindérica, só bebemos SuperBock e Raposeira. Alimentamo-nos de "pistachios" importados do Irão. Whisky é proibído. Só do irlandês, por respeito ao IRA.



E agora pergunto eu: não será possível falar sobre o que se passou ontem – e sobre as suas razões – com uma pontinha de sensatez? Será possível, pergunto eu, fazer, sem ser acusado de terrorista, um raciocínio suficientemente dinâmico que admita os três seguintes pensamentos, a saber:



1º – A culpa absoluta dos atentados de ontem é dos terroristas que os perpretaram;



2º – A coligação soube fazer a guerra mas não está a conseguir a paz.



3º - Estava na cara que isto iria acontecer, pela pressa imensa que os EUA mostraram nos preparativos da guerra.



Ou seja: o que é que eu preciso de dizer e fazer para, ao fazer estas constatações, não ser acusado de terrorista ou idiota útil ou cobarde ou tudo-ao-mesmo-tempo? Será possível ser um moderado? Porque é que as pessoas que mais audivelmente defendem, em Portugal, as posições de Israel e dos EUA, só o fazem por adesão cega à extrema-direita dos respectivos regimes políticos? Enfim: porque não se dão ao trabalho de ser algo mais do que luso-papagaios dos actuais governos de Telavive e Washington?

Agosto 19, 2003

A insustentável ironia do destino

Miguel Marujo

Se o destino tem razão de ser, então a saída deste silêncio faz parte desse desígnio inultrapassável!



Morreu Sérgio Vieira de Mello.

Aquele que foi o rosto das mais recentes e significativas operações humanitárias da ONU, contando no seu curriculum com a Administração do Kosovo, de Timor Lorosae e, dramaticamente, representante do Secretário Geral das Nações Unidas no Iraque, não escapou à lógica - ou à falta dela - incompreensível dos despojos da guerra!



Morreu Sérgio Vieira de Mello.

O homem da paz em Timor, após ter aceite mais um desafio exigente, voltando a estar no centro da geopolítica internacional, acabou por perecer debaixo dos indesculpáveis escombros dos atentados!



Morreu Sérgio Vieira de Mello.

Quem virá, agora, ganhar mais legitimidade? A administração Bush e Blair, reafirmando a necessidade de uma intervenção no Médio Oriente e legitimando a invasão do Iraque? Ou virá a dar razão às vozes que se opuseram, intransigentemente, contra a II Guerra do Golfo?



Esta discussão é importante, mas já não fará renascer das cinzas o homem que era Sérgio Vieira de Mello!



publicado em asceta.blogspot.com

Agosto 19, 2003

Assustador

Miguel Marujo

Há barulhos - e (ausência de) imagens assim: o momento em que explode o camião "filmado" no interior do edifício da ONU em Bagdad. Barulho, muito barulho. E às escuras, os gritos de pânico.

Agosto 19, 2003

Um homem bom

Miguel Marujo

Morreu Sérgio Vieira de Mello. Acreditava na luta pelos Direitos Humanos. Acreditou na independência de Timor-Leste. E acreditava que a ONU podia fazer pelo Iraque aquilo que os Estados Unidos não conseguiram fazer.



Bem-vindo, Filipe. Como vês, há debates que precisam de ser feitos - e mantidos.

Agosto 19, 2003

O regresso

Miguel Marujo

Se o destino tem razão de ser, então o reencontro com a Cibertulia faz parte desse desígnio inultrapassável!

Quem por cá andou em 1999 e 2000, não podia deixar de voltar, ainda que impelido por frágeis manifestações de saudosismo. Mas a qualidade das mensagens "postadas" e a indiscutível tendência dos cibertúlios para a discussão de assuntos polémicos - perceptível pelas mais recentes leituras deste espaço - obrigam-me a sair do ascético silêncio cibernáutico.

Eis-me, pois!

Teles

Agosto 19, 2003

Pausa para o horror

Miguel Marujo

Uma explosão atingiu o edifício da ONU em Bagdad. Vieira de Mello, o homem da paz em Timor-Leste, está «gravemente ferido». Há muitos outros feridos e pelo menos três mortos (apenas um confirmado). Não é este mundo que queremos.

Agosto 19, 2003

A bola começou a rolar!

Miguel Marujo

Queria ter escrito ontem, que a segunda-feira é que é dia de falar de futebol, mas não tive tempo... Depois de um fim-de-semana prolongado sem electricidade em Nova Iorque, era de esperar que o dia de ontem fosse preenchido. E foi.

Assim, vou ser obrigado a falar de futebol à  terça-feira.



1. A primeira nota não podia deixar de ir para a suspensão dos jogos do Estrela da Amadora e consequente suspensão daquele que deveria ter sido o jogo inaugural da Superliga 2003/04. Esse jogo que não foi, que não opôs o Belenenses ao Estrela da Amadora, foi, não tendo sido, a marca mais negativa do fim-de-semana desportivo. Que raio! Tá um gajo dois meses à espera disto e, em cima da hora, dizem-lhe que afinal tem de esperar mais um dia?! Só neste paí­s!



2. A segunda nota, por consequência, vai para o jogo que, em segundas núpcias, acabou por inaugurar a Superliga 2003/04. O Sporting esteve a perder, sofreu até ao final e, há que reconhecer, mereceu ganhar. Beto esteve magistral no remate certeiro e imparável que deu os primeiros três pontos ao Sporting, mas o melhor dos lagartos foi (cheira-me que será sempre) Rochemback! Apesar de caceteiro e algo indisciplinado, é decisivo nos lances de bola parada e contagiante na forma raçuda como joga. Eu que tanto tenho criticado a gestão de recursos humanos do Sporting, tenho de reconhecer: grande jogador!



3. A terceira nota vai para o Benfica. A estreia nesta edição da Superliga foi na linha daquilo a que Camacho já nos habituou: joga-se benzinho, mas não costuma dar para ganhar às boas equipas. Desta vez também não deu... É verdade que o Boavista de Sanchez mantém algumas das caractérí­sticas do de Pacheco, nomeadamente a dureza objectiva com que defende, mas o Benfica tem de se queixar de si próprio. Mais uma vez sentiu-se a falta de Tiago e, desta, nem Geovanni nos safou. Cristiano voltou a ser o jogador com as melhores oportunidades de golo (uma bola à barra e um remate já dentro da área, defendido com dificuldade pelo guarda-redes boavisteiro), mas há que salientar dois jovens jogadores portugueses: Moreira e João Pereira. Moreira fez uma exibição do mais alto ní­vel, defendendo tudo e transmitindo enorme confiança ao resto da equipa, mostrando aos benfiquistas que o dinheiro que í­amos gastar em Ricardo foi bem poupado. Para quando, senhor Scolari, uma chamada à Selecção A?

João Pereira, por outro lado, fez uma estreia que, no mí­nimo, se pode considerar entusiasmante! Oriundo do Casal Ventoso, produto das escolas do Benfica (pelos vistos também temos!), internacional português desde os sub-15, 19 anos. Na selecção de sub-19 joga a lateral direito, mas a rapidez e a generosidade que mostrou no Bessa parecem ser mais úteis lá na frente. Camacho pode não ter reforços, mas tem bom olho!

Por falar em reforços, outros dois jogadores, desta feita brasileiros, merecem também destaque: Roger e Luisão. Roger parece estar de saída, Luisão diz-se que vai chegar. Roger é uma promessa permanentemente por cumprir; Luisão é mais uma das 359 contratações prometidas nos últimos dois meses... Será que desta vez se vai cumprir?



4. O Porto começou bem a defesa do seu tí­tulo. Ganhou e somou os primeiros 3 pontos. Mas... a verdade é que o Braga incomodou muito e o Porto não jogou nada de especial. Bom mesmo só o golo do Derlei, um grande golo! De resto, continua Maniche a merecer destaque: corre que se farta, rouba bolas, pauta o jogo, remata, faz faltas, sofre faltas. Enfim, é um jogador indispensável, coisa que infelizmente os dirigentes benfiquistas não perceberam...



5. Última nota para o Vitória de Guimarães, que parece querer continuar a jogar o futebol mais bonito de Portugal. Um regalo para os olhos que, infelizmente, só está disponí­vel para quem tem SportTV (eu tenho!). Nos primeiros quinze minutos do jogo de ontem, o Vitória ofereceu um autêntico recital de bom futebol! Foi o Fangueiro que saltou do banco para marcar o golo, mas o trio maravilha é formado por Guga, Nuno Assis e Afonso Martins. 1-0 até nem é muito impressionante, mas é o mesmo resultado que o Porto fez com o Leiria e, apesar de tudo, este golo valeu mesmo! A única nota menos positiva é que para a semana o Vitória joga com o Benfica e, quem sabe, até já poderá utilizar o Romeu e o João Tomás... Acho que preferia que o próximo jogo do Benfica fosse com uma equipa mais fraca...

Agosto 19, 2003

Remédio santo

Miguel Marujo

Há uma Farmácia Morais Sarmento, na Rua de São José, em Lisboa. À porta, o nome da casa é anunciado pelo medicamento «Melhoral»: para as «dores de cabeça, garganta, febre e constipações». Confere.

Agosto 18, 2003

Impressões dos Alpes

Miguel Marujo

A Cóia (olá!) escreveu-nos um e-mail dos Alpes. Mais precisamente de Vaduz, Liechtenstein. Ficam as suas (soltas) impressões de viagem.



Pois é uma linda terra, sim senhora! Tudo verde, tudo arranjadinho, tudo no seu sítio, todas as pessoas são simpáticas e amigáveis, algumas já estiveram em Portugal, outras até mesmo no Algarve e há até quem passe férias no Carvoeiro, onde eu vivo neste momento. Por isso, aquela teoria de o mundo ser piqueno é mesmo verdade. Existem muitos portugueses por estas bandas, como por exemplo o director do McDonalds cá da terriola. Mas existem outros que não aprendem nada com novas culturas...é uma pena... Na sexta-feira, no feriado cá do burgo, houve uma "ganda" festa que acabou por volta das 11h da noite, foi engraçada, mas a família real nem sequer apareceu na janela e eu que até contava que o príncipe se encantasse mal me visse. Ele que até nem é de deitar fora.



Ouvi entretanto dizer que Portugal está a arder, é que não vejo TV há algumas semanas, até já recebi uma mensagem da minha vizinha inglesa a dizer para não me preocupar porque as nossas casas ainda estão intactas.



Aqui, meus amigos, chove, está frio e eu já não tenho roupa para usar porque na malinha vieram só coisas fresquinhas e sandálias. Uma pessoa a viver no Algarve fica mal habituada. Mas, quando estive em Frankfurt, bem me fizeram jeito com o calor que estava e com as caminhadas que fiz com a minha amiga Patricia.



Vou voltar para a semana e já não era sem tempo porque estou um pouco farta de tanta perfeição, falta-me o caos do Algarve, o sol, os turistas, os lisboetas de férias (eh, eh, eh)...



Enquanto cá estive aproveitei e aluguei uma bicicleta e andei a pedalar junto ao Reno, depois fui até aos montes. A paisagem é realmente linda, não há dúvida. O que me faz confusão é perceber o que levou aquela gente a subir aos montes, há 100 anos atrás ou mais, apenas com a ajuda de burros e vacas. Falo de montes com 1600 a 2000m de altura.



O bus por estradas muito arranjadinhas demora 30 minutos a subir e eu demorei 4 horas a descer a pé. Mas, sem estradas e os utilíssimos túneis, como é que aquela gente chegou lá acima, para depois ter de construir tudo. Sim porque lá em cima, não há nada a não ser uma vista linda, as nuvens ao alcance das mãos, o verde e as árvores. Dizia o meu amigo Marujo que talvez seja por isso mesmo, mas eu acho que para se ter uma vida as pessoas que lá moram têm de descer. A diferença é que descem de Porsche, Ferrari, Maserati, Harleys, etc..



Lembram-se do filme da Amélie? Pois aqui também existem muitos jardins com duendes e coelhinhos...



O Burro é um animal muito estimado e existe até o congresso internacional dos burros. É verdade! Pessoas de todos os lados trazem os seus burros para concurso e têm livro de família e tudo. As vaquinhas têm uns sinos muito ruidosos pendurados e as crianças jogam futebol nos jardins com camisolas do Figo. Ao segundo dia, quando lia o meu livro sossegadamente na varanda, os miúdos vizinhos juntaram-se e começaram a falar comigo. Foi engraçado porque com o dialecto deles é impossível perceber seja lá o que for, por muito alemão que se saiba. E então a minha primeira resposta foi "auf deutsch bitte"... Eles lá fizeram um esforço, gostaram de saber que vinha da terra do Figo e, pronto, já tenho amigos no Liechtenstein!


Agosto 17, 2003

A TSF «aborrece», como o Acontece (outra teoria da conspiração)

Miguel Marujo

O debate. A PT quer calar a TSF Rádio Notícias por motivos políticos, acusa João Pedro Henriques (JPH), em Glória Fácil. Com razão, acho eu. Também Guerra e Pás disso falou (e muito bem), mas defendeu a resposta económica para as motivações da monopolista PT. «O problema da rádio é sempre, mas sempre económico», escreveu. E, mais à frente, sobre a TSF acrescenta: «"A rádio de palavra" - como é a TSF - estará ainda mais ultrapassada, porque (diz-se) as pessoas querem é música! É uma ideia falsa e que (estou convencido) brevemente será rebatida pela realidade».



A notícia (antes do debate). Na modorra da silly season, Carlos Andrade pediu a demissão de director da TSF. Porque discordava dos cortes anunciados na redacção da rádio. Mas também porque estaria contra o novo modelo de programação, proposto por um "auditor" externo (Emídio Rangel), que incluíam noticiários de quatro minutos - muito adequado a uma rádio-notícias! - e fóruns para as mulheres.



Aborrece. Distraídos com o destino do «Acontece», poucos questionaram o destino da TSF. Excepção feita ao blogue-novo de JPH - que ainda protestou com a blogosfera por ter discutido o sexo dos anjos, que é como quem diz se a TSF é de esquerda ou assim-assim ou de direita (também nós aqui falámos disso). Talvez essa discussão ajude mais do que pareceu.



Afinal, a PT é um braço do Estado, Governo, o que quisermos. E se Morais Sarmento não hesitava em perguntar - de cada vez que se encontrava com membros do conselho de administração da RTP - se já tinham acabado com o «Aborrece» (não é piada minha!), nada me diz que aqueles fortes braços não se tenham estendido a outras pressões junto do CA da PT, como também sustenta JPH. Dizia Pacheco Pereira, em Dezembro de 2000, num texto que o próprio agora recuperou sobre a TSF: «Já ninguém é suficientemente ingénuo para pensar que a interferência do governo se faz por telefonemas directos dos ministros, embora ainda os haja. As formas são mais sofisticadas, uma das quais são as "reestruturações" em nome da eficácia dos "negócios" que condicionam carreiras, postos, compromissos e o destino de jornais e rádios. Também aí há alguém a premiar quem se porta bem e quem se porta mal e esse alguém está no governo, ou depende do governo.»



Ora, a TSF também "aborrece": uma "rádio de palavra" dá a palavra a todos. Os que dizem bem do governo, mas também os que dizem mal (que os há, que os há). E se o "fórum" de todas as manhãs é "esquerdista", acusa alguma direita, os nossos governantes podem querer antes dar música a quem ouve aquela rádio.



É uma teoria da conspiração, como qualquer outra. Mas de um Governo que usa a propaganda como poucos (o caso recente de Maggiolo Gouveia é extraordinário) nada surpreenderia. Mesmo sem telefonemas para a redacção.



Sarmente. A cultura da PT é adequada a um governo que desconfia da Cultura. Nos "mentideros" da comunicação social sopra-se constantemente a venda pela PT do Diário de Notícias, que é mais prestígio que lucros, sobretudo agora que o 24 Horas parece morder os calcanhares das vendas. O «DNa» - esse suplemento de amor-ódio com a blogosfera - é também dado como "a extinguir" [que me desculpem a extrapolação simplista: José Mário anseia todas as semanas com o "fecho" da sua edição].



Falsa pluralidade. O perigo do monopólio da PT não se resume ao perigo real dos «jornalistas [perceberem] que se se armassem em parvos, arruinariam as hipóteses de conseguir emprego em pelo menos 1/3 do mercado», como se escreveu no Guerra e Pás.



Apenas este exemplo doméstico, por todos facilmente constatável: para instalar o ADSL cá em casa, de uma empresa que não do universo PT, tive de esperar um mês, para a PT "testar" a ligação da minha casa à rede. E bem sabemos como é ter um telefone fixo, mesmo que "afectos" à Novis ou à Oni: a PT obriga-nos a pagar o aluguer do equipamento... Quem disse que Cavaco foi o grande liberalizador das comunicações?

Agosto 16, 2003

Obos móis à esquerda

Miguel Marujo

1. A Praia não deixa a coisa por menos: está aqui o melhor blogue português. Já lá fui. Não sei se «Cristóvão de Moura» é o melhor, mas é pelo menos desconcertante - ou, dito de outro modo: provocador (e eu gosto muito desta palavra). Porque é um blogue escrito por alguém de esquerda - mas sem o peso de ideias-feitas-de-algumas-esquerdas. Deixo-vos apenas este naco de prosa, retirado de um texto mais longo, «que a revista do Bloco de Esquerda [Manifesto] não quis publicar» a Paulo Varela Gomes:

O desabamento das elites intelectuais e políticas, o desaparecimento destes corpos sociais (por exemplo, o fim dos partidos - que hoje não são mais que grupos profissionais de arrebanhadores de votos), deu lugar à presença “em directo” da multidão na esfera política e nos espaços colectivos.

O povo-em-directo faz com que a democracia, tal como a conhecemos, esteja de facto ameaçada de morte por todo o género de demagogos populistas e pelo poder oculto de quem nunca aparece na televisão.

Como se enfrenta esta ameaça, não sei.

Sei que o mundo anterior à Revolução Francesa não era bom, contrariamente ao que pensava o meu avô. Mas o seu instinto reaccionário apontava na direcção certa: o problema reside na necessidade de inventar novas instâncias e protagonistas para interpretar, traduzir, filtrar, mediar a “vontade popular”.

Precisamos de igualdade de direitos, sim, mas também de diferenciação nos acessos a esses direitos.




Houve um debate nosso que ficou esquecido lá para trás - sobre o voto. Vale a pena recuperá-lo.



2. A Cibertúlia tem gentes de muito lado. Menos que as gentes de todos os lados que é a blogosfera, é certo. Mas permitam-me esta nota regional, de terras de obos móis: descobri quem escreva «sobre o mundo a partir de Aveiro», «do lado esquerdo» - e conhecendo o autor só posso esperar um «lado esquerdo» que nos faça pensar.

Há outros blogues que partilham aquele ponto de partida: Suspeitos do Costume, do jornalista (que, olho-me ao espelho, nos últimos tempos, parece significar também ser bloguista) Rui Baptista - e outros suspeitos; entre Aveiro e Lisboa, João Oliveira discute «o estado da cidade de Aveiro» e promete «discussão pública sobre política regional»; do outro lado da margem, um murtoseiro fala-nos de «coisas chatas e de outras mais arredondadas».

Agosto 16, 2003

Três éfes

Miguel Marujo

Substitua-se o fado, e temos a trilogia destes dias: fogos, futebol e Fátima. Hoje, dia de rescaldo (primeiro éfe), já começaram outros rescaldos (segundo éfe). No terceiro éfe, rezou-se pelo primeiro, e alguém há-de ter prometido uma ida a pé se o "seu" clube for campeão (segundo éfe).