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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 31, 2003

Não será propriamente de chorar...

Miguel Marujo

Chamou-me à atenção uma noticia da CNN e resolvi, por curiosidade, seguir os links. Telegraficamente: o Vaticano volta à carga sobre as uniões de Homossexuais e a aprovação de leis que legalizem essas uniões.

O documento pode ser lido aqui.



Correndo o risco de citar fora do contexto transcrevo aqui um trecho, curiosamente retirado de uma nota ao documento:

Deve, além disso, ter-se presente que existe sempre « o perigo de uma legislação, que faça da homossexualidade uma base para garantir direitos, poder vir de facto a encorajar uma pessoa com tendências homossexuais a declarar a sua homossexualidade ou mesmo a procurar um parceiro para tirar proveito das disposições da lei » (Congregação para a Doutrina da Fé, Algumas Considerações sobre a Resposta a propostas de lei em matéria de não discriminação das pessoas homossexuais, 24 de Julho de 1992, n. 14).



Que o pessoal abusa dos empréstimos jovens e contas poupança habitação com fins de obter regalias fiscais já eu desconfiava... agora afirmar-se homossexual para tirar proveito de disposições legais... sinceramente parece-me exagerado. No minimo.

Julho 31, 2003

Do choro

Miguel Marujo

Lembram-se da Tatiana? Volta de novo à Cibertúlia (com a transcrição - consentida - do seu artigo na Voz da Póvoa).



«Vi muitas lágrimas de alegria em Sevilha. Eram gordas e não queriam escorrer pela cara abaixo. Preferiam ficar à espera que um raio de sol as fizesse brilhar.

Hoje o arrumador que me ajudou a estacionar estava a chorar porque não aguentava as dores da ressaca de heroína.

Tenho uma tia que chora em quase todos os filmes e uma amiga que deixa os namorados desconcertados porque não há noite de paixão que não desate num pranto.

Mas o mais impressionante é a ausência das ditas: ver um filho não chorar por um pai que lhe era mais querido do que todos os que ficaram. Quando a emoção é tão forte que nem sequer consegue ganhar consistência. Quando a mente não assimila a tragédia.

Porque o choro é por natureza finalizador. Só se chora quando se entendeu.

Antes das glândulas lacrimais produzirem aquela secreção aquosa com cloreto de sódio, recebem uma ordem do cérebro. Se o superior hierárquico estiver em choque, a mensagem não chega a ser comunicada.

Desaprendemos a chorar. Aliás, começamos lindamente: somos especialistas à nascença. Qualquer desconforto, soamos o alarme. Desde a fralda mal posta à mama da mãe que sabe a creme hidratante.

Depois vamos perdendo a noção de oportunidade. É a única explicação para não chorarmos no trânsito. Nada é mais angustiante do que estar preso dentro dum automóvel com vontade e necessidade de estar noutro lugar. Quando sabemos que o patrão não vai aceitar a desculpa dos engarrafamentos. Quando temos a certeza que o nosso filho de 6 anos, que nunca vamos buscar à escola a horas, nos vai perguntar outra vez se é mesmo preciso ter 18 anos para se tirar a carta e se é mesmo proibido andar de triciclo na auto-estrada.

Nessas alturas fazemos cara séria e desatamos a desbobinar desculpas em vez de nos desfazermos em lágrimas.

Estas férias vou-me vingar de todos os momentos de contenção. Vou passar os dias a chorar.»




Ontem, a ver «Once and Again/Começar de novo» (RTP2, 23h) também me apeteceu vingar-me de todos os momentos de contenção. E voltar para o deserto.

Julho 31, 2003

Vírgulas de outras vozes

Miguel Marujo

O Zé vai hoje de férias. Ontem fomos ao cinema ver o Hulk. Eu gostei mais do que ele. Mas ambos experimentámos o travo da desilusão por esperarmos mais de Ang Lee, o realizador. E definitivamente não é um filme de acção.



Há dias descobri uma vírgula, cibertuliana de outras épocas, que nos sobressalta em cada "post" colocado. Descubram-na, já. E daí partam para outra viagem, com sabor a sal, também proposta por ela. A pena que tenho daquela pena não escrever também aqui.



Por fim, ainda tocado pelo regresso do deserto do Carlos, convido-vos a experimentar uma outra voz que vem do deserto. Incisiva, única, evangélica (para dar o toque ecuménico que tem faltado às nossas conversas). E com paixões que partilhamos, como a de Nusrat Fateh Ali Khan.

Julho 31, 2003

Digo eu...

Miguel Marujo

Em relação à questão aqui colocada pelo Primo tenho andado, paulatinamente, a monologar mentalmente comigo mesmo. Tal como o Zé tenho que concordar que, no actual panorama político-social, muito dificilmente um sistema desses vingava. Muito rapidamente:

1. Os políticos, num sistema de sufrágio constante, mensal/semanal/diário, tenderiam para a demagogia e populismo de forma a se manterem no poder. As reformas necessárias para resolver problemas de fundo, normalmente caracterizam-se por atingir resultados no médio/longo prazo, enquanto se tornam impopulares no curto prazo. Ora...

2. A falta de maturidade política de grande parte da população tenderia a re-eleger/demitir políticos com demasiada "à-vontade", conforme as políticas agradassem ou não.

3. Os agentes económicos, os investidores, não pactuam com este tipo de instabilidade governativa. Fogem disso a sete pés. E são estes investidores que, quer se queira quer não, são o motor das actuais organizações político/sociais.



Não obstante, volta e meia, e porque sou programador, fugiu-me a pesquisa para as componentes práticas de suporte a um sistema desses. A coisa só funcionaria através de sufrágios electrónicos, onde o acesso ao voto é facilitado e a velocidade a apurar os resultados é incomparável aos sistemas actuais. Mas e quanto às fraudes? Sistemas electrónicos de tratamento de informação sensível já existem actualmente com maior complexidade e a segurança exigida. Estou a falar do e-banking ou mesmo da entrega do IRS On-Line. Perante estes sistemas, um que gerisse apenas um "sim" ou "não" a partidos políticos parece-me bastante simples. E no entanto...



Eis o que, de mais recente, me veio parar à rede.

As próximas eleições na Índia, no próximo ano, decorrerarão exclusivamente com recurso a máquinas de voto electrónico.



Existem grandes reservas quanto à adopção do voto electrónico. Isto porque existem exemplos de "bugs" em algum do software usado. Nomeadamente em um desse exemplos o software baralhou os "sims" com os "nãos" de forma irremediável. Outra das polémicas prende-se com as incontornáveis fraudes. Assim este artigo compara a utilização de software open-source, ou seja o código disponível para quem o queira ver, ou software proprietário de determinada entidade, género caixa-preta.



A verdade é que fraude sempre houve em eleições, suponho que desde que nos tempos primitivos se elegiam os chefes de tribo... no entanto, nestes sistemas electrónicos, esse perigo inclusive diminuem uma vez que é preciso um know-how muito específico para ludribriá-los. Em caso de suspeita é mais fácil pesquisar quem teria esse know-how...



Em conclusão qu'isto já vai longo.

O voto electrónico, se bem implementado, tem quanto a mim todas as vantagens quer em termos de celeridade na obtenção dos resultados, que evitaria as maratonas televisivas em dia de eleições com, cada canal, a apresentar resmas de analistas a analisaram e re-analisarem por outras palavras, para passar tempo, enquanto não chegam os escrutínios... quer em termos de incentivo ao voto. Eu lembro-me que detestava ir ao meu banco, meter-me em filas, esperar... agora com acesso pela internet vou lá, às vezes, duas vezes por dia. Só para me distrair... e sem sair de casa. Da mesma forma se pudesse, em dia de eleições, votar de uma qualquer praia do país, por sms... é apenas uma ideia.

Não necessariamente para efeitos de sufrágio, mas penso que brevemente teremos uma maior participação electrónica, das sondagens de opinião à actuação do governo e não só. Com amostras muito mais vastas as margens de erro diminuem. Os resultados deixam de ser díspares, consoante a entidade que efectue a sondagem. Passaria a saber-se de facto o que pensa a população mês a mês, semana-a-semana, dia-a-dia... o que se faria depois com essa informação?