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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 02, 2003

Miacoutar é lindo!

Miguel Marujo

Porque é que a questão tem de ser "maciço" ou "massivo"? Porque não trocar o exclusivo "ou" pelo inclusivo "e"?

Confesso que, intuitivamente, tenderia a utilizar a expressão "massiva" para a designação das tais armas. Não sei porquê, mas acho que é por identificar "maciço" mais com as propriedades dos metais, tipo "ouro maciço"... Mas, se calhar, essa minha tendência é mais bem explicada pelo facto de utilizar diariamente o inglês como lí­ngua franca de trabalho... Pode ser.



Ainda assim, depois de reflectir, substituindo a intuição pela intenção, continuo a achar que não tenho de escolher. As línguas não devem cristalizar e não vejo nenhuma razão para condenar a utilização de uma expressão só porque é um galicismo ou um anglicismo ou outro ismo qualquer. Sou a favor da mestiçagem e acho que as lí­nguas são uma óptima expressão desse processo. Aliás, vou mesmo mais longe e fujo como diabo da cruz da tentativa de aportuguesação (toma lá mais uma nova e vai ver se vem nos dicionários!) dos termos estrangeiros que incluo nas minhas formas de expressão mais quotidianas. Arre, se reconhecemos que a "saudade" é intraduzí­vel, porque não reconhecer também que há termos e expressões inglesas, francesas, espanholas ou outras quaisquer que também são intraduzí­veis?! A correcção da lí­ngua, do meu ponto de vista, deve ser preservada na gramática e na sintaxe, nunca no vocabulário! É por isso que a lí­ngua portuguesa não é de Camões. O bravo Luís não passaria, hoje, num teste de lí­ngua portuguesa. Na verdade, nem saberia escrever o seu nome, já que, provavelmente, ainda assinaria Camoens...



De qualquer forma, o que mais me "picou" foi a vil e injusta acusação feita à globalização, que, ultimamente, parece ser a responsável por todos os males do mundo... Não é! Não vou explicar aqui o que é a globalização - precisamente porque se trata de algo muito mais complexo do que alguns querem fazer crer! - mas não hesito em afirmar que a globalização não é responsável pelo domínio do inglês, nem pelo declí­nio das lí­nguas latinas. Aliás, devo dizer que não vejo porque é que se possa falar desse declí­nio, já que não o verifico em lado nenhum. Na sociedade norte-americana, por exemplo, nunca o espanhol foi tão importante e toda a gente sabe que vai continuar a crescer e a impor-se cada vez mais. Por outro lado, como o Zé disse e muito bem, as lí­nguas latinas falam-se em todo o Mundo e, isso sim!, tem a ver com a globalização...



Fala-se da globalização como se a globalização fosse ela própria uma entidade; como se tivesse capacidades humanas; como se fosse capaz de pensar e planear; como se fosse uma mente profundamente má nas intenções e maquiavélica nos métodos... A globalização é "apenas" um processo, um processo histórico e humano. Talvez seja mesmo o processo histórico da humanidade, a História. Reduzi-lo a uma das suas infinitas facetas é, isso sim, maquiavélico, porque nunca pode deixar de ser uma tentativa de utilizar a globalização para justificar um discurso preparado e intencional.



Quem me conhece bem, nomeadamente na minha vertente mais académica, sabe que adoro este tema e que podia ficar aqui horas a escrever sobre ele... Não o vou fazer, mas tenho de agradecer ao Zé por me ter ensinado a traduzir uma parte do processo de "globalization" para português: diz-se miacoutar! E é lindo!

Julho 02, 2003

Miacoutar

Miguel Marujo

Pois é a Língua Portuguesa já não é o que era !!!

Já não há respeito pela Língua de Camões !!!

No meu tempo não era assim !!!

Antigamente havia a Edite Estrela que corrigia o Povo com bondade e severidade !!!

Hoje é a total bandalheira !!!

Já ninguém se entende !!!

Isto é tudo uma pouca vergonha !!!



Após uma conversa de taxista, a nossa alma fica purgada de qualquer cegueira conservadora e purista.

Efectivamente parece-me que é consensual que a palavra massiva não existe em Português de Portugal, para tirar dúvidas podem consultar o Ciberdúvidas como o Miguel sugere.

No entanto e felizmente a língua não é estanque, evolui e apropria-se de termos e linguajares longínquos que incorpora e renova, é a isso que hoje em dia chamo de miacoutar.

Perdemos este brincar com as palavras ??? Negamos o novo ??? Como aceitar sem perder o essencial ???

Não há bela sem senão e efectivamente vivemos numa época dominada pelo inglês e é dele que partem as grandes influências.

A Globalização tem destas coisas !! Mas não teve sempre, as línguas Latinas falam-se em todo o Mundo !!!



Eu por uma questão estética e por uma questão de resistência uso maciço. Até me miacoutar.

Julho 02, 2003

Erros massivos ou disparates maciços?

Miguel Marujo

É uma boa pergunta, Zé. Sabemos que os erros dos americanos foram massivos. E as armas continuam por encontrar. Assim como o Português não dá para esclarecer.

Consultei, há tempos, o Ciberdúvidas (um bom site sobre dúvidas de Língua Portuguesa) e seguindo os seus conselhos optei pelo «massivo», galicismo como sabemos, pouco dado às massas italianas. Hoje, quando lá voltei, para poder "sacar" as doutas opiniões, dei de caras com uma outra...

Assim, deixo à vossa escolha:



1. «Querendo maciça significar «compacta, que não é oca; que representa grande densidade, espessa» e massiva «significativa; relativo a um grande número de pessoas», inclino-me mais para o uso do adjectivo massiva para qualificar destruição. Sendo assim, a frase ficaria: «A destruição provocada por armas nucleares é massiva/significativa».

Estou ciente de que nem toda a gente vai concordar com esta explicação, pois está enraizada a noção de que maciça e massiva são sinónimos, como aliás vem referenciado no Dicionário de Sinónimos da Porto Editora.»



Maria Celeste Ramilo




2. «O adjectivo "massivo" ocorre tanto na versão escrita 2003 como na versão "online" do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, com o significado de «relativo a um grande número de pessoas, referente a massa; sólido, volumoso; significativo». Na 8.ª edição revista e actualizada 2000 do dicionário da Porto Editora a palavra ainda não aparecia.

Outros dicionários de referência não a mencionam, a não ser o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, definindo-o apenas como termo linguístico: «Diz-se do substantivo que representa um conjunto que não é passível de ser dividido».

Sendo um termo condenado pelos puristas, a maior parte dos dicionários já o regista.»



Maria Celeste Ramilo




3. «Não parece que haja necessidade de usarmos o adjectivo massivo, talvez por cópia do inglês massive e/ou do francês massif, porque o nosso adjectivo maciço, além de o compreendermos melhor por ser da nossa língua, traduz perfeitamente os sentidos originais dos termos estrangeiros massive e massif.

O nosso maciço também tem que «ver com "massa", com ser compacto e denso.», pois que, entre as várias significações, tem as seguintes: que é compacto; pesado (sinónimo de denso) – acepções estas a que se refere o prezado consulente para justificar a adopção do estrangeirismo massivo, de que não precisamos. É palavra que nem sequer vem nos dicionários.

Não precisamos para nada da palavra massivo em «afluência massiva de pessoas = afluência em massa», porque o nosso vocábulo maciço também se emprega nesta acepção. É o que nos ensina o muito bom e conhecido Dicionário Aurélio na entrada maciço:

«Em grande quantidade, comparando-se ao que é comum: presença maciça de espectadores.»

Em conclusão: o prezado consulente não apresentou nenhum caso em que o significado de massivo não esteja também em maciço.

Possivelmente, deixou-se levar, o que é natural, pela grafia massivo, em que há os dois ss de massa. Mas uma coisa é a grafia, e outra é a significação. No caso em questão é esta que interessa.

Caso semelhante se passa com o espanhol macizo, ligado também à ideia de massa. Diz assim o bom e conhecido «Diccionario de Uso del Español» de Marta Moliner na entrada macizo, a: «Formado por una massa sólida sin huecos en su interior.»

No nosso português, não é estranho o uso de maciço para significar grupo de pessoas ou coisas muito juntas, como vimos na transcrição atrás.



J.N.H.




4. «Massiva está sempre errado. Este adjectivo é um galicismo condenável, dado que temos há muito, com o mesmo significado, o vernáculo maciço. Portanto: «armas de destruição maciça».



F.V.P. da Fonseca




Baralhar e dar de novo. Como se lê a língua portuguesa tem muito que se lhe diga. Eu, por mim, estou baralhado. Edite Estrela, volta, e ilumina as nossas vidas!