Agosto 25, 2013
Na morte de António Borges
Miguel Marujo
Dispensem-se elogios fúnebres a quem só nos queria fazer exéquias.
[atualize-se, 26/8/2013, pelas 17:25, para os mais impressionáveis:
«[...] Fiquei com a ideia de que o que defendi lhe suscitou desdém. Havia um enorme mar e um intenso nevoeiro entre a margem que eu habito e a que ele habitava. Acho que ele não apenas não via o outro lugar como não tinha interesse em descortiná-lo. Contava-se talvez entre os que cultivam o autismo económico.
[...] O que me parece é que Borges foi, na cena pública da nossa desgraça recente, quem mais tomou para si a tarefa de usar certas ideias como instrumento poderoso para configurar a sociedade, para a hierarquizar, para minimizar a imprevisibilidade dos humanos, para limitar a escolha, para, enfim, a ajustar a um mundo que era o seu, o das instituições que frequentava, o da relações sociais que desejava.
Neste sentido, foi o mais normativo e o mais alheio à pólis dos intervenientes no debate económico. Estaria errado e não estimaria o que a mim me parece que mais estima deve merecer. Mas também acho que estava convencido disso. Aquele era, afinal, o seu mundo. E cada um de nós só pode procurar fazer valer o seu se a vida for plural e até tiver o colorido que os excessos de Borges lhe deram. [...]» José Reis, no Diário Económico]