Junho 06, 2013
Argumentos de peso contra a grafia de... 1911
Miguel Marujo
«Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente. Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.» Fernando Pessoa, Livro do Desassossego.
«Na palavra lagryma, (...) a forma da y é lacrymal; estabelece (...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério... Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal.» Teixeira de Pascoaes, na revista A Águia, sobre a Reforma Ortográfica de 1911.
«Imaginem esta palavra, phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (…). Affligimo-nos extraordinariamente quando pensamos que haveríamos de ser obrigados a escrever assim.» Alexandre Fontes, A Questão Ortographica.