Maio 22, 2013
"Socégo enfim"
Miguel Marujo
A Granta Portugal está aí - bonita, discreta, com conta, peso e medida, de texto, grafismo, fotografia e ilustração. E sem alarde na escrita mantendo a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico (AO). Neste número 1, a Granta traz-nos inéditos de Fernando Pessoa, na grafia da época. E é nestes textos que tropeço no mais discreto argumentário em defesa do novo AO.
Parêntesis: não faço desta defesa, bandeira acesa; só não me choca o novo AO, chocando-me sim a defesa desbragada, quase violenta - por oposição a... - que muitos insistem em fazer da grafia anterior. E também já por aqui falei no pouco dessassosego (curiosa palavra) que me traz esta nova grafia.
Escreve Fernando Pessoa no soneto inédito «[Sócégo enfim]» aquilo que, hoje, Vasco Graça Moura escreverá sem sobressalto, usando a 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo de sossegar, como "Sossego enfim."
A comichão por confusões como "para/pa[á]ra" ou grafias duplas como "espe[c]tador" não tem pois grande razão de ser - a língua muda. Pode questionar-se (e questiona-se) a necessidade de legislar sobre isto, mas aí, meus caros, recomendo a leitura diária do Diário da República. E não é pelo exercício da nova grafia em que é escrito. É para avaliarem sobre (tudo) o que se regulamenta e legisla.
Eu, por mim, socégo enfim.