Outubro 28, 2010
Coisas más
Miguel Marujo
As coisas más não as queremos. Desde pequeninos que nos ensinam - fugir dos maus. E nós fugimos. Às vezes, é impossível. Sobretudo quando caminhamos na idade e nos aparecem coisas más que não controlamos. A única excepção, sabemo-lo, é poder dizer que as raparigas boas vão para o céu, as más para toda a parte. Agora: o que não se entende é que nos queiram impingir um Orçamento do Estado mau, dizendo-o incontornável, necessário, decisivo, histórico, sem alternativa e o diabo a quatro.
Invoque-se o diabo: aquilo é mau, demasiado mau, vindo de quem não controla as contas, mas a solução não é a solução do PSD, que apenas quer fazer de conta que alivia a carga de um lado, para pesar no outro. A solução é outra, uma em que o défice não nos amarre e asfixie, uma em que as pessoas verdadeiramente contem. Dirão que é de utopia que aqui se defende. Não, não é: é de alternativas políticas que falamos, porque aquilo que nos querem mostrar como inevitável é o mesmo de sempre, que é ensaiado desde os anos de Cavaco e que ruiu estrondosamente com os ratings, as sachs e os borges deste mundo.
Por isto, prefiro duodécimos a uma coisa má. Ao menos, com os tostões, ninguém se atreverá a gastar o que é de todos, para depois vir passar a factura a alguns, os de sempre. Mas, já o disse: não quer chumbar uma coisa má, por birrinhas de 200 milhões catroguianas. Quero chumbar por milhões de anos que nos roubam, em impostos e desemprego e deduções. Chumbado o orçamento teremos um ano para discutir o País, defender um Estado social a sério que nunca nos deram, pagar impostos para esse Estado e não para consultores e empresas sanguessugas do Estado. No fim desse ano, vote-se novo orçamento. Se não houver quem o faça, que se chamem eleições. Ganharão estes ou os outros que andam às turras, mas pelo menos os que pagam a factura podem discutir o que defendem para o País. Chamem-me utópico. Não sou. Não quero é coisas más.