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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Novembro 05, 2009

Fãs das riquezas fáceis

Miguel Marujo

Recebi este pedido no Facebook, pela manhã: "CAMBIO TESOROS DEL VATICANO POR COMIDA PARA AFRICA, TE APUNTAS? Torna-te fã". (Estranha linguagem da net, querem-me fã de uma coisa que, quanto muito, devia ser apoiante.) Mas não sou - nem nunca seria fã de uma idiotice pegada.

 

Acho extraordinário esta demagogia fácil, que água mole gosta sempre de bater em pedra dura a ver se pega. O Vaticano tem riquezas únicas, sim, basta percorrer os fantásticos corredores dos seus museus, entrar na Capela Sistina e deslumbrarmo-nos pela obra maior do homem. Vender isto? Claro que não. Como por cá nunca quereríamos que o Estado vendesse os Jerónimos ou a Batalha, a Torre de Belém ou os painéis de São Vicente.

 

 

Se os "fãs" desta iniciativa parassem para pensar em vez de clicarem automaticamente no botão a dizerem sim, perceberiam que o se pede com esta suposta petição é a destruição de uma herança cultural do Ocidente tão ou mais avassaladora que a destruição dos budas de Bamiyan pelos talibãs. Depois, a demagogia barata de, por isto, se achar o Vaticano um estado rico (é um estado com orçamento deficitário, que cuidar de um património assim também pesa). Devemos pedir a Paris que venda o Louvre, a Défense ou a Torre Eiffel, para acabar com os sem-abrigo na capital francesa?

 

Mais ignorância: em África são muitos os missionários católicos que estão onde nenhum destes fãs ousaria meter o seu cu ocidental, na linha da frente a viver as dificuldades de quem nada ou pouco tem. E não estão a catequizar as pessoas, vivem como elas. Por fim: estes fãs faziam bem numa coisa - olharem para as opções dos seus governos e exigirem que cumpram a meta de entregar 0,7 do seu PIB para cooperação, como todos da UE se comprometeram. E pedirem que, em vez de milhões gastos em armamento ou submarinos, os governos desloquem esse dinheiro para dar comida em África (ou alterar a política agrícola que manda despejar no lixo o que os europeus produzem em excesso). Isto sim, era discussão séria, mas não era cool para se ser fã.

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