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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Outubro 21, 2004

Tóquio, vista da Baixa

Miguel Marujo

O prometido é devido!

Lamento não ter podido dar notícias mais cedo, mas é incrível a quantidade de trabalho que se acumula na nossa secretária quando estamos 17 dias fora... Impressionante!

Assim, depois de ter passado os últimos três dias a tentar descobrir o tampo da mesa sob os papéis, reservei estes dez minutos para transmitir algumas breves impressões sobre Tóquio. Mais tarde, com mais tempo e com mais calma, farei uma análise mais profunda sobre a minha experiência em terras nipónicas.

Para já, queria dizer que gostei. Muito!

Tóquio é uma cidade enorme e altamente populosa, disputando com Xangai o título de cidade mais populosa do mundo. Devem ser aí uns 20 milhões de almas (e corpos) ou qualquer coisa do género (mais milhão, menos milhão, ninguém nota), mas a verdade é que, apesar do completo caos urbanístico, Tóquio é uma cidade acolhedora!

Não é algo que se note logo à chegada, até porque os factos de (quase) ninguém falar inglês, de os transportes públicos serem extremamente caros e de os tufões trazerem consigo chuva e vento em quantidades extraordinárias, não ajuda nada a ter uma boa impressão da cidade.

Mas, à medida que vamos calcorreando as pequenas ruas e as enormes avenidas, que nos vamos deliciando com a arquitectura arrojada e os parques magníficos, que vamos começando a conseguir estabelecer alguma comunicação com os nativos, que as montras das lojas começam a fazer sentido e a revelar algumas bagatelas, que o sol rompe o manto de nuvens e derrama sobre a cidade a sua luz e que as caras das pessoas começam a parecer-nos familiares e, até, bonitas, Tóquio revela o seu charme e conquista-nos.

Se alguma coisa se pode dizer sobre Tóquio, que faça sentido em poucas palavras e seja simultaneamente verdadeiro e justo, é que Tóquio é uma cidade de contrastes. Contrastes que são visíveis na convivência entre o funcionário de fato armani e a senhora de quimono na mesma carruagem do combóio; na proximidade da agitação radical do bairro da Harajuku e da calma divina do santuário Meiji; na diferença de alturas dos arranha-céus de Shinjuku e das casas unifamiliares do bairro Yanaka; na familiaridade da arrojada Tokyo Tower com o bairrista Parque Shiba; e em milhões de outras coisas.

Mas não basta dizer de Tóquio que é uma cidade de contrastes; é preciso também dizer que é uma cidade de tolerância activa. Uma cidade em que as diferenças são reconhecidas, levadas aos extremos e, ainda assim, respeitadas e valorizadas. Uma cidade em que o civismo, no seu sentido mais bonito (aquele que remete para a noção de cidadania) se impõe da forma mais natural possível e em que as pessoas parecem perceber, porque chegam a exalar, a máxima de que a sua liberdade só começa verdadeiramente quando a liberdade dos outros se encontra igualmente garantida.

Por isso, a circulação em Tóquio não é caótica; por isso, Tóquio é uma cidade segura; por isso, Tóquio é uma cidade capaz de acolher 20 milhões de corpos que não se esmagam, não se empurram e não se atropelam; por isso, Tóquio é uma cidade em que toda a gente sorri e se saúda respeitosamente; por isso, Tóquio é uma cidade que concilia trabalho árduo e diversão louca; por isso, Tóquio é uma cidade que nos fica no coração, que deixa saudades e que nos obriga a querer voltar.

Tóquio é muito diferente de Lisboa e eu sei que não percebi nada de nada e sei que não posso falar de Tóquio como se fosse um profundo conhecedor da cidade. Sei que não posso e, por isso, não o faço. Sei que tudo o que digo sobre Tóquio não passa de um conjunto de impressões soltas, provavelmente muito afastadas da realidade. Sei que é muito fácil gostar de uma cidade na qual se está apenas de férias e que essa experiência é muito diferente das daqueles que lá vivem e trabalham todos os dias.

Mas, quem dá o que tem, a mais não é obrigado. E este conjunto de impressões é tudo o que eu tenho para partilhar. Podem não ser exactas, mas são sinceras.

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