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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 31, 2003

Digo eu...

Miguel Marujo

Em relação à questão aqui colocada pelo Primo tenho andado, paulatinamente, a monologar mentalmente comigo mesmo. Tal como o Zé tenho que concordar que, no actual panorama político-social, muito dificilmente um sistema desses vingava. Muito rapidamente:

1. Os políticos, num sistema de sufrágio constante, mensal/semanal/diário, tenderiam para a demagogia e populismo de forma a se manterem no poder. As reformas necessárias para resolver problemas de fundo, normalmente caracterizam-se por atingir resultados no médio/longo prazo, enquanto se tornam impopulares no curto prazo. Ora...

2. A falta de maturidade política de grande parte da população tenderia a re-eleger/demitir políticos com demasiada "à-vontade", conforme as políticas agradassem ou não.

3. Os agentes económicos, os investidores, não pactuam com este tipo de instabilidade governativa. Fogem disso a sete pés. E são estes investidores que, quer se queira quer não, são o motor das actuais organizações político/sociais.



Não obstante, volta e meia, e porque sou programador, fugiu-me a pesquisa para as componentes práticas de suporte a um sistema desses. A coisa só funcionaria através de sufrágios electrónicos, onde o acesso ao voto é facilitado e a velocidade a apurar os resultados é incomparável aos sistemas actuais. Mas e quanto às fraudes? Sistemas electrónicos de tratamento de informação sensível já existem actualmente com maior complexidade e a segurança exigida. Estou a falar do e-banking ou mesmo da entrega do IRS On-Line. Perante estes sistemas, um que gerisse apenas um "sim" ou "não" a partidos políticos parece-me bastante simples. E no entanto...



Eis o que, de mais recente, me veio parar à rede.

As próximas eleições na Índia, no próximo ano, decorrerarão exclusivamente com recurso a máquinas de voto electrónico.



Existem grandes reservas quanto à adopção do voto electrónico. Isto porque existem exemplos de "bugs" em algum do software usado. Nomeadamente em um desse exemplos o software baralhou os "sims" com os "nãos" de forma irremediável. Outra das polémicas prende-se com as incontornáveis fraudes. Assim este artigo compara a utilização de software open-source, ou seja o código disponível para quem o queira ver, ou software proprietário de determinada entidade, género caixa-preta.



A verdade é que fraude sempre houve em eleições, suponho que desde que nos tempos primitivos se elegiam os chefes de tribo... no entanto, nestes sistemas electrónicos, esse perigo inclusive diminuem uma vez que é preciso um know-how muito específico para ludribriá-los. Em caso de suspeita é mais fácil pesquisar quem teria esse know-how...



Em conclusão qu'isto já vai longo.

O voto electrónico, se bem implementado, tem quanto a mim todas as vantagens quer em termos de celeridade na obtenção dos resultados, que evitaria as maratonas televisivas em dia de eleições com, cada canal, a apresentar resmas de analistas a analisaram e re-analisarem por outras palavras, para passar tempo, enquanto não chegam os escrutínios... quer em termos de incentivo ao voto. Eu lembro-me que detestava ir ao meu banco, meter-me em filas, esperar... agora com acesso pela internet vou lá, às vezes, duas vezes por dia. Só para me distrair... e sem sair de casa. Da mesma forma se pudesse, em dia de eleições, votar de uma qualquer praia do país, por sms... é apenas uma ideia.

Não necessariamente para efeitos de sufrágio, mas penso que brevemente teremos uma maior participação electrónica, das sondagens de opinião à actuação do governo e não só. Com amostras muito mais vastas as margens de erro diminuem. Os resultados deixam de ser díspares, consoante a entidade que efectue a sondagem. Passaria a saber-se de facto o que pensa a população mês a mês, semana-a-semana, dia-a-dia... o que se faria depois com essa informação?