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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 17, 2014

Só com os criminosos pobres é que não se pode comer à mesa

Miguel Marujo

«[...] É por isto tudo que não aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e da classe média, por terem vivido “acima das suas posses”, mesmo quando não o fizeram. E mesmo quando havia uma casa a mais, um carro a mais, um ecrã plano a mais, um sofá a mais, um vestido ou um fato a mais, umas férias a mais, uma viagem a mais, recuso-me a colocar estes “excessos” no mesmo plano moral dos “outros”. Algum moralismo salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos e dos de cima com os pequenos vícios dos de baixo e do meio, tem como objectivo legitimar sempre a penalização punitiva de milhões para desculpar as dezenas. É por isto que esta crise corrompe a sociedade e vai deixar muitas marcas, mesmo quando ninguém se lembre de Portas e de Passos.» - Pacheco Pereira

Julho 13, 2014

A Argentina

Miguel Marujo


[fotos de imigrantes chegados a Buenos Aires, entre finais do século XIX e inícios do século XX. Museu da Imigração de Buenos Aires, Argentina, foto MM, Dez. 2004]

 

Quando o Avô João saiu com a promessa de que ia à feira de Março comprar o cavalo branco ao filho, o meu Pai, foi a maneira simples de lhe dizer - aos 4 anos - que ia atravessar o oceano Atlântico e tentar a vida que o Portugal dos anos 1930 não lhe dava. Tentar a vida numa Argentina que acabou sempre por ser, para mim, um território tão próximo e tão longínquo, mesmo depois de eu ter conhecido aquele homem já velho que dizia caracoles e a quem aprendi a chamar avô. Talvez por isso, hoje, me sinta muito mais próximo da Argentina, num dia assim, mesmo que seja fácil querer a derrota de Merkel na bancada ou mesmo que seja fácil amar um país que tem Buenos Aires e El Ateneo e tango e Piazzolla e Borges e Cortázar e Valeria Mazza e La Bombonera e Maradona e San Telmo e El Caminito. Mas hoje o meu Avô João também entraria em campo. E eu jogaria com ele e com o meu Pai. E Messi, pois.

Julho 04, 2014

Pela liberdade e pela democracia

Miguel Marujo

A democracia faz-se com uma comunicação social livre. A liberdade constrói-se com uma comunicação social plural. Quarenta anos depois do 25 de Abril, num momento em que a crise social e económica atinge com inusitada violência os portugueses, não é possível aceitar de braços cruzados que a Controlinveste desfira mais um golpe (“este processo não é possível de realizar sem dor”, diz a Administração) no “Diário de Notícias”, no “Jornal de Notícias”, na “Notícias Magazine”, na TSF, na Global Imagens e em “O Jogo”.

 

Numa operação relâmpago, a empresa avançou com a intenção de despedimento coletivo de 140 trabalhadores, entre eles 64 jornalistas no DN, JN, TSF, NM, GI e “O Jogo” e a rescisão de contrato com outros 20. Como pode defender a Administração que “continuará a informar as pessoas onde quer que estas se encontrem”, com a dispensa de 160 trabalhadores? Como pode insistir que este processo tornará o “grupo mais plural, mais forte, o mais influente e respeitado do país”? É querer fazer mais com muito menos, depois de se cortar a eito, com critérios de despedimento pouco claros e desenhados numa sacrossanta folha de excel.

 

O DN e o JN ficaram reduzidos às suas sedes: o “Diário de Notícias” assume-se como jornal da capital e o “Jornal de Notícias” queda-se por Porto-Gaia. Num e noutro, o País ficou reduzido a quase nada, a Política levou forte machadada, sobretudo no JN, com o argumento de que é área que não interessa aos leitores e a Cultura no DN foi quase esvaziada. Na TSF, há défice óbvio nas equipas que coloca cada vez mais em causa a emissão de continuidade de uma “rádio jornal”. A Global Imagens fica dependente de colaboradores e deixa de poder entrar a sério no mercado de agências de fotografia.

 

Em todas as redações quem fica, ficará a fazer mais, com muitos numa situação de precariedade, outros obrigados a uma lista de tarefas que inibe o tempo e o espaço para um jornalismo de qualidade e rigor que faça diferença e traga mais leitores e ouvintes.

 

Desde há muito que o “plano” para as publicações da Controlinveste encerra uma breve, mas fecunda, história de despedimentos, extinção de títulos, de perda e de perdas. Em 2009, foi o primeiro despedimento coletivo com a dispensa de 119 trabalhadores (60% de jornalistas) e o encerramento, em junho de 2010, do diário “24 Horas” e do gratuito “Global”.

 

A intenção deste novo despedimento coletivo e o que a Administração diz na sua justificação deixam poucas dúvidas: a empresa precipita uma fusão do DN e do JN, uma perda de identidade dos jornais, sem que se perceba onde quer a empresa reforçar a “diversidade” e “pluralidade” de vozes. Consideramos ser um gesto de cidadania assinar este manifesto:

* Contra o despedimento coletivo/seletivo no “Jornal de Notícias”!

* Contra o despedimento coletivo/seletivo no “Diário de Notícias”!

* Contra o despedimento coletivo/seletivo na revista “Notícias Magazine”!

* Contra o despedimento coletivo/seletivo na Global Imagens!

* Contra o despedimento coletivo/seletivo em “O Jogo”!

* Contra o despedimento coletivo/seletivo na rádio TSF!

 

Porto/Lisboa, Julho de 2014

[assinar a petição aqui]