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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Fevereiro 28, 2013

A barca

Miguel Marujo

 

«Eu sempre soube que a barca da Igreja não é nossa, mas é Sua. E o Senhor não a deixa afundar. É ele que a conduz certamente, mesmo que através dos homens que escolhe. Uma certeza que nada pode ofuscar.» Bento XVI, a 27 de fevereiro de 2013. A esta hora resigna.

Fevereiro 28, 2013

Último dia do mês

Miguel Marujo

«Passos Coelho tinha dito que anunciava as medidas para a reforma do Estado durante o mês de Fevereiro. Acaba amanhã [hoje]. Está a pensar na manifestação de 2 de Março, com medo de anunciar medidas antes dela. E por isso quando dizem que as manifestações não contam para nada, é mentira. Contam e este é um exemplo.»

(Pacheco Pereira, esta noite, na TVI24)

Fevereiro 27, 2013

Da moral sexual ("j'accuse")

Miguel Marujo

«Denunciamos a ambiguidade do discurso do Magistério da Igreja sobre homossexualidade que contribui objectivamente para a discriminação social dos homossexuais. Afirmamos que os homossexuais não são cidadãos de segunda e que têm portanto igual dignidade e direito a ver reconhecida a sua diferença.»1

 

 

As denúncias que vieram a público sobre D. Carlos Azevedo, sobre um alegado caso de assédio sexual com cerca de 30 anos merecem dois comentários: um, circunstancial, sobre a luta intestina de poder, por um apetite muito terreno pelo cargo de patriarca de Lisboa, que se iniciou há mais de dois anos com a anunciada resignação de D. José Policarpo (por limite de idade); outro, mais estrutural, por algo que, quanto a mim, não pode ser mais escondido e varrido para as sombras de confessionários pelos bispos e padres - desta Igreja Católica Apostólica Romana - o da moral sexual. Sobre o primeiro apenas posso lamentar que haja bispos a entregar-se a um jogo mesquinho de interesses, numa teia de que ninguém sairá bem na fotografia num futuro próximo. É no segundo que se tem de centrar o debate (aberto e transparente) no interior da Igreja.

 

Há quase 20 anos, uma centena de jovens do MCE aprovou um texto amadurecido ao longo de vários anos, jornadas de reflexão e encontros diocesanos e nacionais. Não era uma reflexão nascida do nada, em dias e noites quentes de verão, era o remate lógico de um trabalho intenso de debate que cruzou duas gerações de militantes do Movimento Católico de Estudantes (das III Jornadas de Universitários Católicos, sobre "A ética e o labirinto dos desejos", em 1990, às IV Jornadas dos "Diálogos sobre a Afetividade e Sexualidade"2, em 1992). A este Documento sobre Moral Sexual, como ficou conhecido, a comunicação social daria alguma atenção semanas mais tarde, entre o choque e o pavor dos bispos reunidos na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). O texto falava sobre sexo, contraceção, homossexualidade, relações prématrimonais, como muitos católicos viviam e experimentavam. Mas o texto ousava dizer em público.

 

A coordenação nacional do MCE foi chamada à pedra, em reuniões sucessivas com os bispos que acompanhavam de perto o trabalho dos movimentos de leigos, com a necessidade de explicar o desvio sério e acentuado ao discurso vigente do Vaticano - e dos bispos portugueses. Jovens na casa dos 15-25 anos, batemos o pé ao que era outro pecado maior que nos apontavam: o texto não tinha tido a aprovação prévia, o imprimatur episcopal, saindo - então por fax - para a comunicação social (como qualquer outro documento aprovado em Conselho Nacional) antes de os bispos o conhecerem. A partir daí, durante uns dois anos, o movimento esteve sob uma espécie de vigilância reforçada dos bispos. E o processo foi doloroso, para muitos, questionados porque tínhamos pensado alto e em bom som sobre sexo.

 

O sexo não era ali era tratado como coisa de anjos. E isso afligiu muitos bispos, bastantes padres. Foram poucos os interlocutores que foram pastores junto dos militantes do Movimento. Faço este desvio pelos anos de 1990-1994 (caramba! há 20 anos) para apontar o dedo aos bispos (e padres) portugueses, o j'accuse que pedi emprestado para o título. Tomo partes pelo todo, por facilidade, admito. Mas o debate que então poderia ter sido feito na Igreja acabou inquinado por padres e bispos que não quiseram refletir a seriedade do documento, procurando antes arrumá-lo como exceção num rebanho ordeiro que não contestava as normas de Roma.

 

E trago esta história, portanto, para denunciar a enorme hipocrisia que é, nos dias que passaram, ouvir os responsáveis do Magistério falarem sobre o caso do bispo Carlos Azevedo. Já no texto, se apontava que «ao Magistério caberia, segundo pensamos, enquanto autoridade fundamental no interior da Igreja, apontar caminhos, valores, princípios gerais de orientação do comportamento dos Homens. No entanto, não é a isto que estamos habituados no domínio da Moral Sexual. Aqui, regra geral, confrontamo-nos com um discurso sabre aspectos particulares e questões pontuais, com pretensões de universalidade, perenidade e de quase infalibilidade, dificultando o acesso aos valores e princípios que diz pretender afirmar. Não raras vezes este discurso é baseado numa assim chamada sabedoria do humano supostamente detida pela Igreja sem nos revelar a sua fundamentação. [...] A inoperacionalidade deste discurso oficial da Igreja advém da sua desarticulação com o real e portanto da sua inaplicabilidade. Resulta daqui a sua ausência de credibilidade tanto junto da comunidade cristã como perante a sociedade em geral. Mais ainda, entendemos que a utilização deste tipo de discurso, que tira partido das inseguranças e fragilidades das pessoas na sua vivência da sexualidade ao insistir em prescrições particulares, é uma manifestação de vontade de poder profundamente imoral.»

 

Para além do triste comunicado da CEP, o que pudemos ouvir foram notas sobre o conhecimento que bispos e padres tinham sobre a homossexualidade de D. Carlos Azevedo, quando em público continuam a fazer um discurso culpabilizador desta orientação sexual, como se ela transportasse um qualquer pecado mortal. Nas linhas cuidadosas do texto de 1993, o MCE refutava este discurso. Bispos e padres não quiseram levar o debate ao centro do que interessava: as pessoas. Atropelando-se pessoas, achincalhando opções, agredindo homens e mulheres com um preconceito "profundamente imoral" sobre a sexualidade de uns e outras.

 

Na hora de discutir este caso concreto, não posso deixar de lamentar que a forma de o encarar seja mandar para Roma o suposto prevaricador. Se houve crime de assédio, essa é outra matéria - de foro criminal. Tivesse a Igreja encarado estes temas de outro modo e estaríamos só a discutir um eventual crime de poder, que é o de assédio, não a homossexualidade de alguém que por acaso é bispo. Mais: ao colocar o debate na sexualidade, temos de enfrentar de uma vez por todas o tema do celibato, imposição tardia de uma igreja medieval que esboroa qualquer argumento teológico para a sua sustentação, em detrimento da responsabilidade de cada um - consigo e com quem se relaciona.

 

A sexualidade de todos os homens e mulheres (incluindo os ordenados) tem de ser vivida de forma descomplexada e natural, sem fazer dela um bicho de sete cabeças. Ou arma de arremesso na hora de escolher patriarcas e papas.

 

 

 

1 - do texto aprovado no XIV Conselho Nacional do Movimento Católico de Estudantes, em Aveiro, Setembro de 1993, incluído em “A História nunca pode ser travada 1980-2000: 20 anos do Movimento Católico de Estudantes” (volume I), 2000.

2 - escrevo de memória datas e títulos...

Fevereiro 26, 2013

[escrever sobre política, por vezes dá gosto]

Miguel Marujo

«As palavras de evocação de Aquilino Ribeiro atropelaram-se na tosse. Mário Soares pousou os papéis do discurso, pediu desculpa e disse que precisava de um rebuçado. Assim fez: o Dr. Bayard saiu do bolso do sobretudo castanho e voltou a temperar a força de uma voz, que mais sumida contava as venturas do “homem quase rude, por vezes difícil”, provavelmente “um dos maiores escritores” de língua portuguesa. Foi o regresso à vida pública do antigo Presidente da República, 88 anos, depois de ter estado internado de 12 a 21 de janeiro.

No Panteão Nacional, comemoravam-se os 50 anos da morte de Aquilino Ribeiro, com um debate sobre “o Homem e o Escritor”, numa iniciativa da Associação Portuguesa de Escritores, à qual se quis associar Mário Soares. Ali, na Igreja de Santa Engrácia repousam os restos mortais do autor de O Malhadinhas, que “devia ter sido prémio Nobel” da Literatura, sentenciou Soares, perante o acordo de uma plateia que incluía Eduardo Lourenço e Mário de Carvalho, Maria Barroso e Pilar del Rio, mulher de José Saramago, afinal o primeiro e único Nobel literário para as penas portuguesas.

Ali, Mário Soares não foi para falar da troika, apenas de Aquilino, disse aos jornalistas que o esperavam à chegada, nos “frigoríficos da glória”, como lhe chamou Eduardo Lourenço, quando da trasladação de Amália Rodrigues para o Panteão. Mas sempre foi dizendo sobre a Grândola, Vila Morena, que esta é uma canção “atual”. “Eu quando cheguei depois de quatro anos e meio de exílio e de expulsão do país, em França, comecei logo a ouvir a Grândola, Vila Morena, eu sou mau cantador, tenho mau ouvido, mas de qualquer maneira gostei sempre muito de também ajudar a gritar e a falar e a cantar Grândola, Vila Morena.”

No Coro Alto da Igreja de Santa Engrácia – cujos séculos de construção motivaram o dito popular sobre demoras nas obras –, uma sala em meia lua à pinha de gente e câmaras de televisão e fotografia, Mário Soares teve tempo para se passear (sem os papéis na mão, que só leu “para não ser atraiçoado pela memória”) sobre a Aventura Maravilhosa de D. Sebastião, resumindo aos presentes um livro que ficciona o regresso do rei que estava vivo e reivindica o trono a Filipe II, e deliciando quem o ouvia com uma história sobre a duquesa de Medina Sidonia, a quem chamavam a “duquesa vermelha”.

No final, arrumou os óculos no bolso interior do sobretudo. “Peço desculpa, mas retiro-me”, com os aplausos ainda a ecoarem. Aquilino também foi pretexto para homenagear Soares.»

[reportagem minha publicada no DN de hoje]

Fevereiro 20, 2013

Rabos e farturas

Miguel Marujo

Há muito anos, houve quem mostrasse rabos: ficaram rascas, quando estavam à rasca. Hoje chamam gatunos, vaiam e gritam. Não são rascas nem menos dignos nos seus protestos - são apenas pessoas que se fartaram. Parece-me que os políticos, quem vive na política (muitos, quase todos) ainda não perceberam bem o que é um povo farto. E a culpa não é de jornalistas atrás do ministro, nem de protestantes menos espontâneos e mais organizados. É de quem todos os dias lhes tira um bocadinho de esperança.

Fevereiro 19, 2013

Franquelim. Não é criminoso que se diz

Miguel Marujo

Volto a Franquelim Alves, assentada a poeira, para responder aos que acham que aquilo foi uma cabala política, cavalgada naqueles dias. Muitos correram a desvalorizar os "pormenores" estranhos do seu currículo: a omissão da passagem pelo BPN e ter começado como "auditor" aos 16 anos. E o próprio secretário de Estado resolveu atirar-se aos críticos com duas ideias: 1) parece que é criminoso começar a trabalhar cedo; 2) ele assinalou a sua passagem pela SLN, alguém no Governo terá omitido. São duas ideias desmentidas pelos currículos do próprio. Vejamos.

 

1) não é crime nenhum começar a trabalhar-se cedo; só não é verdade que tenha começado a trabalhar aos "16 anos", como "auditor", menos ainda na empresa que diz ter sido.

 

O seu CV publicado no site da Universidade Católica, onde foi professor, diz que em «1971 iniciou a sua carreira na Ernst & Young Portugal». Mais, em «1970» teve o «primeiro emprego nas Fábricas Mendes Godinho (Tomar) que terminou ao deslocar-se para Lisboa para desenvolver os estudos académicos». No portal do Governo já conta outra história. Diz que «iniciou a sua carreira, em 1970, como auditor e consultor da empresa internacional Ernst & Young». Quem errou no ano? Não foram os jornalistas, foi Franquelim Alves que escreveu coisas diferentes.

 

Nas suas explicações ao DN e depois à RTP, onde abordou explicitamente o tema da idade, referiu-se ao facto de ter começado a trabalhar aos «16 anos», sem falar do ano. Ora: Franquelim Alves «nasceu em 16 de novembro de 1954». Fez 16 anos no final de 1970, pelo que é credível que tenha começado a trabalhar na empresa "Ernst & Young" aos 16 anos... mas em 1971, sim, como escreveu no seu primeiro perfil público.

 

Mais: a empresa não se chamava de facto Ernst & Young, porque esta só veio a existir muitos anos depois em Portugal, apesar da atual E&Y ter confirmado que sim Franquelim Alves trabalhou lá. Começou em 1970 ou 1971, aos 16 anos, a trabalhar na Barney Mayhew, que mais tarde seria comprada por outras empresas até chegar à atual Ernst & Young. Pormenores. (Eu comecei a trabalhar no Portugal Diário, jornal online do IOL, que hoje em dia é a TVI24.pt - e não mudei o meu CV por isso.)

 

E mais importante ainda: Franquelim Alves não começou em tão proveta idade como «auditor e consultor», como o apresenta erradamente o site do Governo. Terá sido «auditor júnior», esclareceu a Ernst & Young, sem explicar o que isso era, que descrição de funções tinha. Explicou o DN/Dinheiro Vivo: foi paquete, moço de recados.

 

Não é crime começar-se a trabalhar cedo, só não é bonito contar meias verdades ou omitir coisas.

 

2) Perante as primeiras notícias da omissão da passagem de Franquelim Alves pelo BPN (o gabinete do primeiro-ministro omitiu esta informação nas notas biográficas no dia em que anunciou os secretários de Estado), o governante afirmou no dia da tomada de posse que seria o próprio a escrever o CV. Mas se no perfil disponibilizado pelo Governo está lá que «entre janeiro e outubro de 2008, foi, a convite dos seus acionistas, administrador para a área não financeira da SLN com o objetivo de efetuar a reestruturação dos negócios não financeiros, nomeadamente saúde, hotelaria e retalho automóvel», também é verdade que no CV anterior da Católica, escrito por Franquelim como atesta o seu papel timbrado, esteve de «dezembro 2007 – outubro 2008» [e registe-se nova diferença de datas] como «CEO de um Grupo de participações sociais envolvendo as áreas da saúde, hotelaria, retalho automóvel e sistemas de informação».

Franquelim Alves não teve uma passagem criminosa pela SLN/BPN, mas omitiu deliberadamente esse facto num CV público. O problema não é a mania da perseguição de jornalistas, é apenas um problema com a verdade dos factos.

Fevereiro 17, 2013

Excessos

Miguel Marujo


Sim, o World Press Photo vive muito da desgraça alheia, como notaram dois camaradas que partilharam este cartoon (e o Marco escreve acutilantemente sobre isto). Como vive também muito do melhor jornalismo, que se faz nas ruínas do Haiti, nas favelas do Rio, no genocídio dos Grandes Lagos, nos mercados de Bagdad, nos bairros de Aleppo, nas avenidas dos snipers de Sarajevo ou nas montanhas de Timor-Leste.
O cartoon vive do excesso para melhor nos atirar a crueza da sua leitura (mesmo que seja um maomé bombista ou um papa de preservativo). E porventura este cartoon é (muito) excessivo, disse-o. Em última instância, se os jornais não mostrarem a pobreza, mais pobres ficamos todos porque não conheceremos a sua realidade. Mais: mesmo sobre a Síria de Raed Khalil, o autor do cartoon, não fosse o jornalismo que tira fotos e aparentemente nada faz, algo se faz. Eppure si muove, sim, acredito nisso. Até com este jornalismo como arte.

Fevereiro 15, 2013

Já sei (ii)

Miguel Marujo

Aquilo das multas a quem não pedir fatura é uma penitência para a Quaresma que resolveram antecipar em dias de Carnaval, certo?!

Fevereiro 14, 2013

Já sei (i)

Miguel Marujo

Aquilo das multas a quem não pedir fatura é uma brincadeira de Carnaval que se esqueceram de "acabar" com o início da Quaresma, certo?!

Fevereiro 12, 2013

Terça-feira gorda

Miguel Marujo

Hoje é aquele dia em que mais de metade dos portugueses volta a desrespeitar uma ordem do primeiro-ministro, fecha portas e vai na mesma foliar ou apenas descansar. Sejam empresas privadas, câmaras municipais laranjas ou não, ou mesmo empresas públicas, como a Carris.

Fevereiro 04, 2013

Tropeçar no vilão

Miguel Marujo

«O caso de um membro de uma associação criminosa, chamada SLN, que aceitou integrar a delegação permanente da troika em Lisboa, e que, erradamente, se costuma designar por "governo", está longe de ser um exclusivo português. A crise global tem muitas características. É política. É ambiental. É financeira. É económica. Mas aquilo que a distingue é a sua natureza moral. A crise desfaz as máscaras e rasga os véus.

Logo em 2008, ficou claro que, desde há décadas, os governos não passavam de obedientes agentes de uma rede de interesses ligados a uma parte do capital financeiro. O Goldman Sachs, com empregados seus em quase todos os executivos do mundo, ficou como símbolo de uma realidade mais vasta. O problema fundamental não reside só em perceber como as nossas democracias são frágeis e ineficazes.

O problema é que a gente que manda, os banqueiros e especuladores que vivem acima da lei, nos casos Monte Branco, Libor, e outros, esses homens que, da UE aos EUA, utilizam o crime como ferramenta de trabalho, essa gente manda, mas não forma uma elite. Uma elite constitui-se em torno de valores comuns. De uma visão da sociedade. De um projeto de futuro. De uma capacidade de diferenciar o bem e o mal. Uma elite, se necessário, será capaz de se sacrificar pelos valores que protagoniza e pelo mundo em que acredita.

J.J.Astor IV


O melhor exemplo disso foi dado pela elite financeira no naufrágio do Titanic, em 1912. Dos 400 homens super-ricos que viajavam em 1.ª classe, 70% morreram afogados. Há registos, recordados num ensaio de F. Zakaria, que nos confirmam que J. J. Astor, a maior fortuna do mundo de então, acompanhou a sua mulher até ao bote salva-vidas, recusando-se a entrar enquanto existissem mulheres e crianças por salvar. O mesmo fez B. Guggenheim, que ofereceu o seu lugar no bote a uma mulher desconhecida.

Se o Titanic naufragasse em 2013, estou seguro de que quase todos esses 400 super-ricos chegariam são e salvos, deixando para trás, se necessário, as suas próprias mulheres e crianças. A gente que manda hoje no mundo acredita apenas no sucesso egoísta, traduzido em ganhos monetários, pisando todas as regras e valores. Os aventureiros que conduziram a humanidade à atual encruzilhada dolorosa não passam de jogadores que transformaram o mundo num miserável reality show. Tirando o dinheiro, nada neles os distingue da gente vil, medíocre e intelectualmente indistinta que se arranha para participar nesses espetáculos insultuosos para com a condição humana.

Quando andarmos pela rua, é preciso ter cuidado. É preciso olhar lá bem para baixo. No meio do pó e da lama, habita a vilanagem que manda no mundo. Cuidado para não tropeçarmos nalgum deles...» Viriato Soromenho Marques