«Não aceito discutir esta matéria sem que haja, em primeiro lugar, uma explicação cabal das razões que levam o Governo a cortar 4 mil milhões. O partido já tem reclamado esclarecimentos, mas eu vou mais longe. Era fundamental saber, porquê, para quê? E porque não negociar, em alternativa a este corte gigantesco, melhores condições com os parceiros da troika, designadamente no que se refere ao pagamento da dívida e às metas do défice que temos de atingir? Em segundo lugar, contesto de forma muito enérgica a solicitação do Governo ao FMI. O Governo deveria liderar um processo democrático de debate interno sobre a reestruturação do Estado e a eventualidade de proceder a cortes radicais, apresentando as suas propostas. Não percebo, sinceramente, porque consulta o FMI. É para desculpar os cortes nos itens que não são da iniciativa do Governo, mas por sugestão ou imposição do FMI? Mas isso não colhe. Cabe ao Governo o conhecimento da realidade portuguesa. São as próprias entidades que nos empurraram para este caminho, através de medidas de austeridade que provocaram uma espiral recessiva, como falou o senhor Presidente da República, com toda a razão, e que propõem agravar, ainda mais, a atual situação quando está provado que estas medidas têm um efeito perverso na economia. Por que razão não pedem ao FMI que nos dê palpites sobre a forma de relançar a economia, talvez tivessem ideias menos disparadas. Isto foi, de facto, uma aselhice completa do Governo. Talvez quisesse ter um pretexto para começar a entrar nestes domínios mas é um pretexto que provoca a indignação generalizada das pessoas. O FMI seria a última entidade a quem pediria um parecer sobre esta matéria. Era preferível terem-no solicitado a entidades privadas que conheçam Portugal e consciência de quais são os problemas sociais e económicos deste país. Portanto, não é por aqui.» [António Capucho, in DN, do PSD, ex-conselheiro nacional]