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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Agosto 29, 2012

Estes que nos dizem como devemos viver

Miguel Marujo

«Esteve no falido Lehman Brothers, passou pelo Goldman Sachs, o banco que ajudou a mascarar as contas gregas em 2002 e 2003, e por onde passou também António Borges, e chegou vindo do Morgan Stanley, onde era editor executivo. João Moreira Rato foi o homem que, aos 39 anos (completa 40 em setembro), Vítor Gaspar foi buscar para presidir ao Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) e que viu o Governo autorizá-lo a ganhar mais que o primeiro-ministro. A ele e aos seus dois colegas de administração.» [do artigo que assino hoje no DN]

Agosto 29, 2012

Odores

Miguel Marujo

Os rapazolas que há pouco mais de um ano falavam de putrefação de regime, dirão o quê destes tempos? Nada. Estão eles sentados nesta putrefação.

Agosto 28, 2012

A urgência em falar nisto

Miguel Marujo

Os médicos ameaçam com a rutura nas negociações com o Ministério da Saúde por causa do Governo querer mexer na dispensa das urgências. Falemos disso então, mas não falemos como este Governo gosta. Ou de como só gosta de olhar para as coisas: pelo dinheiro. Olhemos para a proposta que quer aumentar as horas de urgência de 12 para 18 horas (há muitos bancos de 24 horas). Olhemos para as propostas que querem aumentar a idade de quem fica dispensado de fazer bancos (o que não quer dizer que deixe de os fazer, seria bom o Ministério dizer quantos depois da idade ainda o fazem). Para um governante que dorme todas as noites na sua caminha e não tem de trabalhar durante a noite para atender situações-limite, pode ser irrelevante dizer-se que se faz mais umas horitas ou que se chamam médicos mais velhos, como se isso fossem detalhes economicistas. Não são.

 

Basta ler a literatura especializada (nos EUA, há estudos que comparam as 36 horas de um banco com níveis de alcoolemia absolutamente assassinos) para perceber que, com a privação do sono, «há erros na atenção auditiva e na estratégia de decisão (Linde et al, 99)» e que «os médicos em trabalho de urgência com privação de sono significativa têm maior probabilidade de cometer erros».

 

Falemos no concreto: Paulo Macedo não gostaria de encontrar pela frente, numa situação grave de doença ou acidente (sua ou de um familiar), um médico com 17 ou 22 horas de trabalho em cima. Mas também deve ser por isso que ele quer dar cabo do Serviço Nacional de Saúde. Os privados tratam-lhe da saúde.

Agosto 27, 2012

Anunciar o que já existe

Miguel Marujo

«Quando estava na oposição, o CDS apontou todas as baterias ao rendimento mínimo. Tratava-se de um subsídio à preguiça e uma prestação que alimentava vícios, era-nos dito. Uma vez no Governo, logo se apressou a reformar a medida, garantindo que o novo regime ia garantir a reinserção social dos beneficiários. Ora, o que é que o Governo anunciou? No essencial, que os beneficiários eram obrigados a aceitar trabalho ou formação profissional, um aspecto que faz parte do código genético da medida tal como existe desde 1996.» [Pedro Adão e Silva, no Expresso]

Agosto 26, 2012

Coerências

Miguel Marujo

O ministro da Defesa foi inaugurar a Capital do Móvel.

O ministro da Defesa foi o primeiro membro do Governo a falar da RTP.

O ministro da Defesa ainda comentou os submarinos e a redução de efetivos na Capital do Móvel.

Agosto 24, 2012

Ruin

Miguel Marujo

«So where to? Mozambique, Istanbul, Rio, Rome
Argentina, Chile, Mexico, Taiwan,Great Britain
Belfast, to the desert, Spain,
Some little bitty island in the middle of the Pacific
All the way back home, into my town
Into my town»


Cat Power, Ruin

Agosto 23, 2012

Passe social menos (-)

Miguel Marujo

O Álvaro que se acha o maior reformador desde o Marquês de Pombal (é ver as suas entrevistas) acabou com o Passe Social dos transportes e criou, para os pobres-mais-pobres (basta ver as condições de acesso) um "Passe Social +" , panaceia miserável para uma política social e de transportes desastrosa. Mais: para se ter tal "Passe Social +" é preciso fazer prova de rendimentos, revistos a cada seis meses. Desde junho, é passar na estação do metro do Marquês de Pombal e ver dezenas de pessoas amontoadas a fazerem prova da sua condição para acederem ao passe. Com as evidentes faltas a empregos, Álvaro, o proclamado reformador, nem se dá conta de como com esta medida social iníqua acaba por dar cabo da produtividade que lhe enche a boca.

Agosto 22, 2012

Nunca o óbvio

Miguel Marujo


Mad Men - que sigo infelizmente sem regularidade - distingue-se pela sobriedade de um retrato de uma certa época e de um meio fascinante e na genialidade de diálogos, ambientes e detalhes. O diabo está nos pormenores como se constatou esta noite (no 8º episódio da 5ª temporada) em que Megan apresenta os Beatles a Don Draper. E a escolha, que não é a óbvia música beatleana, assenta que nem uma luva no registo da série: Tomorrow Never Knows. Nunca o óbvio - para sublinhar o génio, da música e da série.

Agosto 18, 2012

Já não é notícia

Miguel Marujo

...o Benfica perder pontos na primeira jornada.

...o Benfica não jogar com portugueses em 14 jogadores usados.

...o Benfica insistir nesta muito particular opção preferencial em dar pontos aos mais pobres.

...o Benfica contratar sempre um qualquer melgarejo que depois se empresta para outro lugarejo.

...o Benfica ter Jesus que, ao contrário do verdadeiro, que tinha muitas dúvidas, só tem certezas em despachar para fora quem não deve e mexer na equipa sempre nos jogos decisivos.

(Fica escrito, para que conste.)

Agosto 17, 2012

E gabam-se

Miguel Marujo

«Aqueles que, a propósito da declaração de inconstitucionalidade do corte dos subsídios de férias e de Natal aos funcionários públicos, vieram dizer que o emprego público é estável e o privado não, com isso defendendo que os funcionários públicos são favorecidos face aos trabalhadores do sector privado, deviam olhar para isto: “A Direcção-geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP) divulgou quinta-feira que o número de funcionários públicos no final de Junho era de 605.212, menos 5.269 do que no final de Março e menos 8.640 que no fim de Dezembro de 2011.”» (Estrela Serrano)

Agosto 16, 2012

Da berma da estrada à mina

Miguel Marujo

Em 2005, regressávamos do Kruger National Park, próximo da fronteira da África do Sul com Moçambique (Ressano Garcia), quando fomos parados numa operação stop, por "agentes de trânsito" que não eram polícias. Por um alegado incumprimento da documentação do motorista moçambicano que nos transportava tentaram multar-nos. Recusámos fazê-lo ali, exigimos ir à esquadra mais próxima de Komatipoort, onde pedimos para falar com o chefe da esquadra - quem nos apareceu, no meio de uma pequena multidão de agentes negros, foi um holandês nos olhos e no cabelo, africânder sem tirar nem pôr. O "agente de trânsito" começou a explicar-lhe o que se passava em africânder, exigimos que o fizesse em inglês. Acabámos por pagar a multa, com a sensação de que o chefe o fazia para não desmascarar o seu agente, mas o episódio impressionou-me mais por a estrutura de comando manter ainda traços de um apartheid antigo: o chefe era o africânder.

 

Longe de tudo isto, muito longe, a polícia sul-africana fuzilou hoje mineiros. Fuzilou, é o termo - vê-se nas imagens (e não ignoro que havia homens armados entre os mineiros). E vê-se também na linha da frente dos disparos muitos brancos (sim, também há polícias negros), mas a estrutura de comando parece-me ser sobretudo africânder. Anos depois, o país do arco-íris mantém verdadeiras estruturas de um apartheid social e policial. O legado de Mandela vai morrendo. O sonho deste homem é cada mais vez mais o sonho de um homem só.

 

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