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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Julho 30, 2012

Esgrimir dados

Miguel Marujo

 

Este blogue vai já nas suas terceiras Olimpíadas e é provável que algures nestes arquivos morem idênticas ideias*, perante o espetáculo das medalhas frustradas. Durante quatro olímpicos anos não ligamos nenhuma ao judo, ao tiro, à vela, à natação, ao que for que não seja futebol, mas depois em 15 dias somos especialistas encartados destas e outras modalidades e queremos as medalhas todas que nem ao futebol de milhões pedimos. No dia em que Portugal puser de pé um programa olímpico a sério (como fez Espanha, para não ir mais longe, por causa de 1992) e a comunicação social e os portugueses começarem a acompanhar estas modalidades com genuíno interesse sem esperar a medalhinha, aí sim podemos começar a fazer títulos "venham elas!". Até lá, exijamos o impossível: vão aos jogos e divirtam-se, já estão na elite mundial.


[* - sim, há de facto alguns posts sobre estas coisas... até com as mesmas palavras.]

Julho 28, 2012

a celebration - of protest and dissent

Miguel Marujo

«[...] he outstripped the previous Olympic host city by flaunting what the Chinese actively suppressed.

This was pageantry as jiu-jitsu. While Britain's coalition government weighs further cuts to its government-run health-care system, Boyle went out of his way to honor the National Health Service, with real NHS employees as nurses capering on hospital beds.

The show also included a nod to the early-20th-century suffragette Emmeline Pankhurst and the Jarrow Marchers, who in 1936 walked more than 300 miles from County Durham to London to protest hunger and joblessness. When Boyle made a point of inviting their descendants to the proceedings, he also made a point to us.

With The Queen in the house, we heard music from the Sex Pistols, the same band whose God Save the Queen was banned by the BBC. Boyle meant for us to take to heart that line from The Tempest, read early in the evening by Kenneth Branagh: "Be not afeard: the isle is full of noises."

On these isles of wonder, tumult is a good thing. [...]»

Alex Wolff, Sports Illustrated

Julho 27, 2012

Atos

Miguel Marujo

«1. Vi hoje [ontem] com agrado na imprensa que o BPI e a Jerónimo Martins tinham aumentado os lucros deste semestre, em comparação com o ano passado.
2. Parabéns!
3. E espero que também aumentem os impostos que vão pagar por isso ao Estado...
4. (Coisa para a qual sabemos todos que é necessário que (i) a Jerónimo regresse da Holanda e (ii) o BPI gaste menos dinheiro no chamado planeamento fiscal).
5. É que estamos todos mais precisados de patriotas nos atos do que incontinentes nas palavras.»

[Augusto Santos Silva, ontem, no seu Facebook]

Julho 20, 2012

José Hermano Saraiva

Miguel Marujo

 

Sim, foi um grande comunicador. Até um grande divulgador de uma certa hi(e)stória de Portugal. Mas a morte não rasura o papel que teve como ministro salazarento da Educação (e a repressão estudantil em 1969) e de louvaminheiro salazarista na democracia que o seu regime nunca tolerou.

[na foto: "pides protegem Américo Tomás e José Hermano Saraiva"; atualize-se: uma leitura bem mais fundamentada de Rui Bebiano]

Julho 19, 2012

Flexissegurança

Miguel Marujo

Sabemos bem o significado em Portugal: toda a flexi, nenhuma segurança! Agora é o FMI que quer compensar as mães que regressem mais cedo ao trabalho, pagando melhor. Em vez de gozarem quatro meses de licença, fazerem-no apenas em três.

 

Registe-se: num país que tem das piores taxas de natalidade, onde finalmente as mulheres e os homens começavam a ter direitos importantes na licença de parentalidade, onde as mulheres são das que mais trabalham na Europa, o FMI quer promover uma política claramente antinatal, penalizadora da mulher-mãe. Na Dinamarca a licença da mulher pode ir até um ano. É o país onde inventaram e aplicaram o conceito de flexissegurança. Mas lá eles leem a palavra por inteiro.

Julho 18, 2012

Impressões em direto

Miguel Marujo

Há um frenesim do direto que incomoda: por dá cá aquela palha, vejo os meus colegas das televisões serem chamados para marcar o ponto com o político que vai entrar, a porta da sala de reuniões, o jogador que aterrou na Portela ou o arguido a correr pela porta lateral do tribunal. Hoje, quando nas redes sociais e nos jornais online o incêndio do Funchal já era dantesco, os 3-três-3 canais informativos mantinham-se olimpicamente em estúdio com debates, conversetas e opiniõezecas. Por fim, a RTP Informação lá seguiu, como mandam os manuais, para o direto/simultâneo com a RTP Madeira. Neste instante em que escrevo [23.46], SIC Notícias e TVI24 entretêm-se com A notícia em rodapé e mais conversa - "Portugal 2012" e "Prova dos Nove". Uma e outra falham redondamente na prova dos nove da informação sobre o que é este Portugal em 2012.

 

 

[atualize-se o comentário:]
- fosse algo ao fim da rua em Lisboa e talvez a atenção fosse outra; ou não.

- outra nota avançada pela RTP I: Miguel Macedo vai enviar um C130 para a Madeira para ajudar a combater os incêndios; estranho país que centraliza tudo, fecha o interior, as ilhas, a província e incha nas capitais urbanas.

Julho 17, 2012

Desamores

Miguel Marujo

Acabam-se as aulas, vêm as férias longas que matam quase todos os amores do recreio. Eles os dois, adolescentes sentados de olhos de lágrimas, nem se dão conta da breve ironia que é estarem à porta de um Minipreço.

Julho 17, 2012

Dicionário para diabos

Miguel Marujo

corrupção
nome
feminino

1.   ato ou efeito de corromper ou corromper-se
2.   estado do que se vai corrompendo; decomposição; putrefação
3.   ato de corromper moralmente; perversão
4.   adulteração
5.   estado do que é corrompido
6.   uso de meios ilícitos para obter algo de alguém; suborno

(Do latim corruptiōne-, «idem»)

Julho 17, 2012

Sacristães

Miguel Marujo

Da Lusa: «"Espero que o senhor bispo faça uma escolha entre ser bispo das Forças Armadas e ser comentador político", afirmou o ministro da Defesa, rejeitando qualquer punição a D. Januário Torgal Ferreira.» - esta gente que acha que a Igreja tem de estar enfiada na sacristia e só gosta dos bispos-benza-inaugurações faria melhor em ficar calada.

Julho 16, 2012

Quanto mais metro

Miguel Marujo

... mais perto. Amanhã o metropolitano de Lisboa chega ao aeroporto. Imagino que por lá vejamos nas inaugurações da coisa o inefável ministro da Economia. Mas tomemos nota: este é o ministro que deu cabo do razoável que eram os transportes de Lisboa.

Julho 14, 2012

Que se jodan!

Miguel Marujo

Há uma certa direita que acha que só está no desemprego quem quer, porque são preguiçosos, querem o rendimento mínimo e na pior das hipóteses são uns malandros e gatunos. Há em Espanha quem o traduza em linguagem clara: Que se jodan! os desempregados, gritou uma deputada do PP espanhol. Esta gentinha não tem um pingo de decoro.

 

Julho 13, 2012

As convicções ficaram no elevador

Miguel Marujo

Uns rapazolas andaram por aí disfarçados durante uns tempos a arrear bandeiras da República, hasteando um pano velho de mais 100 anos (e azul e branco). Mas a luta esfumou-se quando apanharam os elevadores das assessorias do poder, conseguindo de caminho arrear a República de um feriado. O Darth Vader merecia mais respeito.

Julho 12, 2012

Estado das nações

Miguel Marujo


Gran Via, em Madrid, foto publicada esta noite no facebook


 

 

Primeiro vieram buscar os comunistas, e eu não disse nada porque não era comunista.

Depois vieram pelos judeus, e eu não disse nada porque não era judeu.

Depois vieram pelos sindicalistas, e eu não disse nada porque não era sindicalista.

Depois vieram pelos católicos, e eu não disse nada porque era protestante.

Depois vieram por mim e, nessa altura, já não havia ninguém para erguer a voz.

[atualize-se: não tinha lido o texto do Pedro Adão e Silva no Expresso de sábado, mas tem tudo a ver]

Julho 08, 2012

À porta duma sala de espectáculos

Miguel Marujo

«[...] com muita boa vontade, se desculpará um primeiro-ministro que, sem tempo para analisar uma deliberação desta importância, vem sugerir medidas duma importância fundamental para o País e os cidadãos à porta duma sala de espectáculos. O que não se pode admitir é que o primeiro-ministro venha sugerir que a aplicação dessas medidas lhe foi praticamente imposta por um tribunal. Primeiro, porque numa democracia os tribunais julgam, não sugerem acções. E, em segundo lugar, porque, de facto, os juízes não o fizeram.» [Pedro Marques Lopes, in DN]

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