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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Janeiro 31, 2007

Oxalá

Miguel Marujo



Oxalá, me passe a dor de cabeça, oxalá

Oxalá, o passo não me esmoreça;

Oxalá, o Carnaval aconteça, oxalá,
Oxalá, o povo nunca se esqueça;

Oxalá, eu não ande sem cuidado,
Oxalá, eu não passe um mau bocado;
Oxalá, eu não faça tudo a pressa,
Oxalá meu Futuro aconteça.

Oxalá, que a vida me corra bem, oxalá.
Oxalá, que a tua vida também.

Oxalá, o Carnaval aconteça, oxalá,
Oxalá, o povo nunca se esqueça;

Oxalá, o tempo passe, hora a hora,
Oxalá, que ninguém se vá embora,
Oxalá, se aproxime o Carnaval,
Oxalá, tudo corra, menos mal.

[Letra e Música de Pedro Ayres Magalhães, álbum "O Paraíso", interpretação dos Madredeus.]
Via SushiLeblon.

Janeiro 31, 2007

O feto

Miguel Marujo

Aguiar Branco disse-o, titubeante, no debate do Prós & Contras: o feto (ou o embrião ou uma criança) de uma mulher grávida por violação não é igual a um feto (ou um embrião ou uma criança) de uma mulher grávida. Não percebi. Dir-me-ão que a esta excepção prevista na lei corresponderá uma enorme fragilidade física e psíquica e emocional de uma mulher violada. É verdade. Mas esse feto é igual ao de uma mulher que engravidou sem ser violada. Uma outra qualquer gravidez poderá, para essa mulher, acarretar uma outra violência física e psíquica e emocional. Não consigo ajuizar, não consigo entrar no íntimo de cada uma, para conhecer a fundo as razões que a levarão ao aborto. Apenas sei que devo confiar nela, na mulher. Ajudando-a, aconselhando-a. Mas respeitando-a. Mais do que isto, estarei a violar a sua consciência. Eu prefiro confiar na vontade da mulher. O aborto não é feito levianamente, sem uma grande dor. No seu íntimo, a causa será justificada e dolorosa. Violar a sua consciência é obrigá-la a recorrer à clandestinidade, que é o que acontece hoje, que é o que acontecerá se o não ganhar.

[publicado originalmente no Sim no Referendo]

Janeiro 31, 2007

Da memória: «A barbárie confessa de uma sociedade»

Miguel Marujo

[actualizado: o nome prestou-se à minha confusão. O texto do Público é de António Pires de Lima pai e não de António Pires de Lima filho. Mea culpa, minha tão grande distracção. Sem alterar o sentido do texto, que seria incorrecto da minha parte, corrijo este dado. Obrigado ao Leonardo Ralha pelo reparo nos comentários. E as desculpas a quem de direito e leitores.]

António Pires de Lima [pai] escreveu-o ontem no Público: "Saddam Hussein foi objecto de um homicídio autorizado legalmente: nisto consiste a execução da pena de morte. Admito que tenha cometido crimes da maior gravidade. Monstruosos e inumanos. Em minha opinião o facto de se lhe tirar a vida constitui, ou traduz, a barbárie confessa de uma sociedade que se considera a ela própria incapaz de promover, sequer tentar, a regeneração do responsável. [...] Enfim: teremos, em Portugal, o regresso ao tempo da destruição legalmente permitida de seres humanos, tal como quando aqui vigorava a pena de morte." O título deste artigo: «Por que voto não».

Mas vale a pena olhar para o baú da memória: em Agosto de 2002, [o mesmo] Pires de Lima [filho] veio admitir a reintrodução da pena de morte, num artigo de opinião no Diário Económico. No PortugalDiário tive ocasião de seguir a história. Recupero excertos.

"O dirigente do CDS/PP António Pires de Lima admite a pena de morte. Uma posição pessoal, que o seu partido não acompanha. Nem políticos, nem juristas, nem mesmo a Igreja se colocam ao lado do ex-deputado, que assume a sua condição de «católico praticante, politicamente incorrecto e religiosamente desadequado».
Pires de Lima defende que faz sentido ponderar a reintrodução da pena de morte em Portugal para crimes extremos, principalmente aqueles que envolvam crianças ou práticas de pedofilia. [...]
O PP já se demarcou da posição do seu dirigente, embora advogue sanções mais pesadas para estes casos. Fonte do gabinete de Paulo Portas disse ao PortugalDiário que «o presidente do partido sempre foi contra a pena de morte». [...]
Em declarações ao jornal A Capital de hoje [8/8/02], António Pires de Lima reafirma a posição assumida num artigo de opinião publicado na terça-feira no Diário Económico. Aí escreveu: «Apesar da desumanidade dos corredores da morte e do discutível acto moral de retirar a vida a alguém, é talvez esta a única forma de fazer justiça possível em casos destes [o crime de Inglaterra], honrando a memória das crianças mortas [Jessica e Holly]». [...]
António Pires de Lima lançou a polémica [no referido artigo] olhando para o "alto": «[Depois da condenação à morte,] Deus lá estará, para a todos julgar e perdoar aquilo que só Ele pode entender». [...]"

Janeiro 30, 2007

A pergunta

Miguel Marujo

A «pergunta» parece afligir muitos, que dizem que se fosse explicitado o que vem a seguir votariam «sim». Um equívoco, ontem abusivamente gritado como se fosse um «cheque em branco» por quem se diz ex-ministro da Justiça. O que se referenda é uma intencionalidade para futura lei: quer despenalizar a mulher? Se sim, qualquer regulamentação terá de ser feita em sede própria, no Parlamento, depois do referendo. E quem quer combater o aborto clandestino (o Sim), tudo fará para que essa regulamentação se cumpra eficazmente.

[publicado originalmente no Sim no Referendo]

Janeiro 30, 2007

[para memória futura, II]

Miguel Marujo

Devo viver noutro país e devo frequentar outra Igreja Católica, onde o Não vai para as portas das igrejas cravar assinaturas para os seus movimentos; onde se invocam nossas senhoras e terços para sair à rua; onde se atira que os católicos serão excomungados e sem direito a funeral religioso se votarem sim... De resto: o Estado é secular e por isso não deve decidir em função de opiniões religiosas. A César o que é de César.

[mais um comentário de resposta que pelos vistos não passou do crivo da moderação do Não; actualizado: este comentário foi publicado agora (30/1, 12h20), assim como a anterior "memória futura", muito depois de outros posts e comentários terem sido publicados.]

Janeiro 30, 2007

Prós e contras, mais isto

Miguel Marujo

Aguiar Branco para além de ter dito que é pai de cinco filhos disse que sabia do que falava porque foi ministro da Justiça. Espantoso país: um ex-ministro da Justiça que defende que se deve manter a lei para continuar como até aqui, sem ser cumprida. Menos espantoso: foi ministro da Justiça do Governo de Santana.

Janeiro 29, 2007

[para memória futura]

Miguel Marujo

[comentário deixado na caixa de um post do Blogue de Não, em que um dos seus autores me dizia que eu me iria atormentar por contribuir para a liberalização do aborto, e que tive de recuperar porque não foi publicado. o que me atormenta, é a liberalização actual, respondi-lhe. como não sei se este comentário será aprovado, deixo-o aqui para memória futura.]

Entre o comentário de VLX, às 12h34, e a minha pergunta das 16h42, deixei uma resposta ao seu comentário que não foi publicado. Insisto, porque deve ter havido uma falha técnica involuntária certamente.

Dizia eu que espero que VLX também gira bem na sua consciência, nos dias que correm, as mulheres que morrem por causa de abortos clandestinos ou das que se vêem atiradas para as urgências dos hospitais, com a actual liberalização do aborto. Espero que consiga gerir estes momentos o melhor possível. Eu vivo atormentado com isto, por isso quero a despenalização (que é o que se vota!) da mulher, nada mais, combatendo esta liberalização.

A liberalização do vão de escada que existe nos dias de hoje tem de acabar, e é isso que o Sim quer, com a proposta.

Janeiro 29, 2007

Espantos

Miguel Marujo

Há um «médico com média de 50 consultas por dia [que] trabalha mais de 200 horas por mês», diz o Público, com base numa inspecção da IGS. O motivo será a prescrição elevada desse médico em tanta hora. Escuso de o defender, cada um sabe de si. Espanto-me é com o espanto das 200 horas mensais. Cá em casa, M. tem um horário de 42 semanais (que inclui 12 horas de urgência e que é muitas vezes ultrapassado), mais 12 horas extraordinárias que é obrigada a fazer nas urgências (sim, bancos de 24 horas semanais). Estas 54 horas semanais traduzem-se em 216 horas por mês. Destes casos, a Inspecção da Saúde não quer saber. Só põem em causa a saúde de cada médico e a prescrição é "hospitalar".

Janeiro 28, 2007

Nem mais, nem menos

Miguel Marujo

«(...) É inevitável a pergunta: dentro das dez semanas, já existe vida humana, ser humano ou pessoa humana? Sobre o que é a vida, sobre o que é vida humana, sobre o que é pessoa, as linguagens do senso comum, das ciências, das filosofias e das religiões não são coincidentes. E, no interior de cada um desses ramos do conhecimento, o debate não está encerrado.(...) A embriologia expressa no boneco chinês é pura fraude e uma obscenidade.

Parece-me exorbitante ameaçar os católicos que votem "sim" com a excomunhão. Comparar o aborto ao terrorismo é fazer das mulheres aliadas da Al-Qaeda. A retórica deve ter limites.

Creio que é compatível o voto na despenalização e ser - por pensamentos, palavras e obra - pela cultura da vida em todas as circunstâncias e contra o aborto. O "sim" à despenalização da interrupção voluntária da gravidez, dentro das dez semanas, é contra o sofrimento das mulheres redobrado com a sua criminalização. Não pode ser confundido com a apologia da cultura da morte, embora haja sempre doidos e doidas para tudo.

Eu, agora competente me confesso para afirmar: quando, em Portugal, o aborto for obrigatório, abandono o país. Nem mais, nem menos.» Frei Bento Domingues, hoje no Público.

Janeiro 28, 2007

Pequena polémica

Miguel Marujo

O animador do não João Gonçalves tresleu o meu comentário no blogue dele sobre a não publicação do texto de frei Bento. E este animador do não muito-católico-e-pio-certamente aproveita para dizer que não considera o frei Bento e outros do "género". Devo ser do género. Mas deixei-lhe comentário:

«Eu não lhe perguntei o que achava do artigo, perguntei se não ia queixar-se de que era manipulação não surgir online o texto como se queixou da alegada manipulação do DN, na transcrição da missa de Marcelo.
Sobre a sua opinião sobre o frei Bento, revela muito sobre si e sobre alguns católicos neste referendo. Ah, sou católico e continuarei a ser Igreja também, por muito que lhe custe a si e a outros. Não aprendeu que não deve ajuizar da fé dos outros?!» [E adendou mais um treslimento. Deve ser estilo.]

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