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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Junho 19, 2006

(do Índico)

Miguel Marujo

A turbulencia comeca no Mali, pouco antes do Burkina Faso. A 33 mil pés, os contrastes de um continente passam despercebidos, na noite escura. (16.6)

O passaporte está já carimbado e com visto, mas o funcionário da alfandega quer olhar para ele - "e nao tem nada a declarar?. Nao. "Estao cá de...?" ... férias. Tá feito: passamos sem mais. O bacalhau, o salpicao e o vinho para o Joao entram sem contrapartidas. (17.6)

Na ilha da Inhaca, o computador onde escrevo tem um teclado qwert acompanhado de caracteres árabes (e de mosquitos). Se calhar, há acentos como o til, mas assim nao o encontro. (19.6)

[este post pode ser ou nao actualizado, depende da vontade. ou da disponibilidade de comunicacoes.]

Junho 16, 2006

[uma pausa]

Miguel Marujo


De partida para férias fica o prazer da conversa. Aqui - e com os amigos, novos e velhos [e podem ir pelos vossos próprios dedos, visitar as casas do lado, que eles também ali moram]. Uma pausa assim parece mais pequena e os dias, todos os dias, serão para lembrar. Ou rir. Ou viajar. Ou o que fizermos deles. Voltamos já.

[mais uma imagem de Um livro para todos os dias, de Isabel Martins e Bernardo Carvalho, ed. Planeta Tangerina]

Junho 15, 2006

Sem dias

Miguel Marujo

populares em Alcoutim, a aguardar o "Sr. Presidente da República" [foto Lusa]

Cavaco está há 100 dias em Belém. Como disse? Um veto ideológico, um roteiro no interior algarvio e alentejano. "Pedimos desculpa pelo incómodo, prometemos ser breves" é um lema possível para estes 100 dias.

Junho 14, 2006

[trovões]

Miguel Marujo

Por instantes, chove. A roupa foi recolhida a tempo. E cheira a terra. Mais tarde, quando o céu troveja de novo, é apenas o foguetório dos santos. Não há terra para cheirar.
[E depois. Nem meia-hora depois, das entranhas do céu despertou uma violenta tempestade. O dia nasceu mais cedo. A terra e o cheiro a terra ficaram do outro lado do vidro.]

Junho 13, 2006

Bandeiras

Miguel Marujo

"Uma centena de bandeiras de Portugal foram apreendidas pela PSP num estabelecimento de Viseu, por conterem inscrições de marcas comerciais que poderão ser consideradas ultraje a símbolo nacional, disse hoje à agência Lusa fonte judicial." Espera-se idêntico procedimento com as bandeiras distribuídas há dias pelo Expresso/BES.

Junho 13, 2006

Visitas

Miguel Marujo

A SIC Notícias informa-nos que Bush está no Iraque (não sairá da "zona verde"), "a segunda vez que o presidente americano visita o país, da primeira não saiu do aeroporto". Fiquei contente: posso acrescentar à lista de países visitados por mim o Qatar e a Índia.

Junho 13, 2006

Crises

Miguel Marujo

A avaliar pelo número de vezes que fui ao Parque Eduardo VII e a quantidade de livros comprados, temos de dar crédito aos feirantes. A crise está aí.

Junho 13, 2006

Lá foi Lisboa

Miguel Marujo

As marchas desfilavam na Avenida e nós lá em cima, a subir e descer a Feira do Livro. É o mesmo todos os anos, repete-se ad nauseum. Sem que ninguém pareça importar-se. Falo da feira. E do Santo António. Fugimos às sardinhas e vai bife com ovo e batata frita. Ao descer às festas, os desvios são grandes, os lugares de estacionamento escassos. Metemos marcha atrás e voltamos a casa. Na televisão ainda passam as marchas, atrás de casa ainda há bailarico. O Santo António não se importa.

Junho 12, 2006

Portugal-Angola (ou Inglaterra)

Miguel Marujo

«POST-GAME THOUGHTS
Angola can hold their heads up having kept it close against a Portuguese team packed with talented attacking players. While Portugal may have eased up a bit in the second half and played to protect their lead, this was nothing like the English performance yesterday. Portugal created a bunch of good chances and kept on the attack almost to the end. Plus, of course, they scored the goal they won by themselves.»
[in New York Times]

Junho 11, 2006

O fado como pretexto em noite de sereias

Miguel Marujo

Ulisses enfrentando as sereias. Óleo de Herbert James Draper.

Diz a lenda que Ulisses chegou à foz do Tejo. A noite de sábado quase que o confirmava: se no rio ainda morassem marinheiros, teriam ouvido encantos de sereia. Pelo Castelo de São Jorge, passou uma princesa, na voz e na emoção que pôs no seu regresso a Lisboa. Cristina Branco, que começou no fado na Holanda e, desde então, aventurou-se por outras águas até aportar em “Ulisses”, o seu último trabalho de originais, onde por vezes aquilo que se ouve se parece fado. Ali, por entre as sombras das árvores, num cenário deslumbrante (a cidade aos pés da colina), Cristina Branco deixou ainda várias dedicatórias a Lisboa, “mulher apaixonada”, e a Portugal, no dia de Camões.
Mas o castelo que foi dos mouros deixou-se a seguir invadir pela magia cinéfila de Rodrigo Leão. O pretexto também foi o fado, em mais uma noite da “Festa do Fado”, promovida pela Câmara Municipal de Lisboa, integrada nas festas da cidade. E quase que se ficciona uma banda sonora de um filme mudo, por entre os labirintos das escadas e becos de Alfama. Também se podem ouvir aquelas músicas por entre barcos de um porto mediterrânico — e Ulisses volta a espreitar das águas iluminadas do rio Tejo.
Sem as vozes femininas de “Alma Mater” e “Cinema”, o compositor e músico apresentou-se acompanhado por uma outra voz singular, a de Ana Vieira. Outro encanto.
Com o pretexto do encontro, Rodrigo Leão chamou ao palco Cristina Branco para a interpretação de “Redondo Vocábulo”, de José Afonso, e “Mudar”, um seu inédito de que ali ganhou voz.
Na noite, “Hoje o céu está mais azul,/ Eu sinto/Fecho os olhos, mesmo/assim/Eu sinto/O meu corpo estremecer/Não consigo adormecer”. Há viagens únicas. Ulisses chegou a Lisboa.


Rodrigo Leão e Cristina Branco

[texto no METRO desta segunda-feira]

Junho 11, 2006

O fado como pretexto

Miguel Marujo

Noite perfeita. O Castelo, a lua cheia, a voz de Cristina Branco, o cinema de Rodrigo Leão. «Hoje o céu está mais azul,/ Eu sinto/Fecho os olhos, mesmo/assim/Eu sinto/O meu corpo estremecer/Não consigo adormecer». Há viagens únicas.

Junho 10, 2006

Jacarandás[as árvores que os de fora gostam]

Miguel Marujo

Em Aveiro, ao contrário do que me dizia a memória, há jacarandás. Rodeiam José Estêvão, na Praça da República. E floriram apenas no ano passado, contam-me a Isa e o Filipe, com o calor seco que atravessou os canais da ria. Ninguém terá registado esse momento, só ele, que também os admiraria à saída do Parlamento, se fossem já árvores de Lisboa no século XIX. Ficamo-nos por cá a admirá-los.

Junho 10, 2006

Cidade

Miguel Marujo

Lisboa cheia de luz percorrida nos trilhos que os lisboetas pouco fazem, deixando lugar ao vozear constante de outras línguas. Subo ao Castelo, de autocarro para evitar a canícula. Espanhol, italiano, inglês, francês, alemão. E um casal adolescente português na idade da parvalheira. Depois desce-se a colina, chega-se à Baixa, vai suja a cidade, misturam-se as cores e os sabores de gentes de todo o lado, negros, brancos, árabes, católicos, pecadores, turistas, lisboetas, imigrantes, emigrantes, mendigos e indigentes, apressados e vagarosos. Num impulso tomo a direcção da Igreja de São Domingos. Não é sumptuosa, tem estatuária que a desfigura, velas que incomodam, preces que se queimam, mas as paredes negras e despidas do incêndio devolvem a beleza - das coisas simples. Da cidade em volta, luminosa.


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