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Cibertúlia

Dúvidas, inquietações, provocações, amores, afectos e risos.

Novembro 12, 2013

Sang bagsak

Miguel Marujo


A legenda possível para esta foto da Reuters é esta (e escrevi-a no DN). «No dia em que a notícia foi a alegria do nascimento de Bea Joy, depois de Emily Sagalis, 21 anos, a ter dado à luz por entre os escombros, o mundo ignora o nome desta pequena criança que o seu pai transportou para a morgue da cidade filipina de Tacloban, arrasada pelo tufão Haiyan e que terá feito dez mil mortos.»
Estive nas Filipinas em outubro de 1992, seria época de tufões mas não me recordo de ter essa preocupação, assim como ignorei os perigos de idêntica tempestade em Hong Kong, no verão de 1991. Estávamos perto da Eco'92, no Rio de Janeiro, antes e depois, mas o aquecimento global era ainda um tema quase académico-excêntrico, como tantos antes de nos entrarem pela janela dentro.
No meio da confusão de Manila ou Quezon City, os jeepneys faziam as vezes de transportes públicos levando-nos eficazmente de um lado para o outro em Metro Manila ou transportando-nos para a aldeia de Sitio Balangbag Arau - se a memória não me atraiçoa -, no meio da floresta e onde Magellan era sinónimo de Portugal.
Ao ver as imagens da destruição de Tacloban reconheci naquelas construções débeis e arrasadas muitas das casas que retive da visita ao país, naquela aldeia a duas horas da civilização ou na área metropolitana da capital e na região de Laguna Bay. Já não me recordo dos nomes daqueles com quem me cruzei, não sei que caminho seguiram. Mas prefiro pensá-los no meio dos escombros como Bea Joy e não numa estrada de destroços como a deste pai. A eles e a um país, que no seu exotismo longínquo aprendi a ter como próximo: as Pilipinas. E como os próprios dizem, para dar sorte, para ter sorte, sang bagsak.